A Bíblia, frequentemente referida como as Escrituras Sagradas, tem sido objeto de debate e estudo profundo ao longo dos séculos.
Para muitos, representa não apenas um registro histórico e literário, mas a própria Palavra de Deus revelada à humanidade.
A dicotomia se a Bíblia “é” ou “contém” a palavra de Deus, tem gerado conflitos e debates no meio teológico. Este artigo visa explorar e esclarecer essa questão.
Inspiração divina dos escritores bíblicos
Segunda carta a Timóteo 3:16 afirma que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir e instruir em justiça”. Esta passagem aponta claramente para inspiração divina de toda a Escritura.
Quando consideramos os escritores da Bíblia — de Moisés a Paulo — vemos homens de diferentes origens, ocupações e contextos históricos. No entanto, um fio comum entre todos eles é de receber inspirações de Deus em suas escritas.
Enquanto esses escritores eram humanos e, portanto, possuíam personalidades, culturas e estilos literários distintos, a revelação de Deus é preservada e única. Esta dualidade destaca que a Bíblia foi escrita por homens, mas sob a inspiração direta de Deus.
A Bíblia como testemunha de eventos históricos
Os livros da Bíblia não são apenas textos teológicos, mas também registros de eventos históricos. Desde a criação em Gênesis até a visão apocalíptica de João em Apocalipse, a Bíblia documenta uma ampla gama de acontecimentos.
João 21:24 é uma afirmação da veracidade das escritas apostólicas: “este é o discípulo que testemunha estas coisas e as escreve; e sabe que o seu testemunho é verdadeiro”. Assim, enquanto a Bíblia transmite mensagens espirituais, ela também contém registros factuais e históricos.
Estes registros são cruciais, por ancorarem a fé bíblica na realidade. Eles fornecem um contexto para a atuação de Deus na história e mostram que a Palavra de Deus é concreta.
A natureza da Bíblia
Enquanto algumas passagens da Bíblia são claramente Deus falando diretamente à humanidade, como os Dez Mandamentos em Êxodo 20, outras passagens são narrações, poemas, cânticos e reflexões.
Salmo 18:30 declara: “Quanto a Deus, o seu caminho é perfeito; a palavra do SENHOR é provada”. Este versículo, como muitos outros, reconhece a perfeição da palavra de Deus. No entanto, a Bíblia também contém lamentos, alegrias, medos e esperanças dos autores humanos.
Isso não diminui sua individualidade, mas destaca sua personalidade. A Bíblia, além de ser uma mensagem de cima para baixo, também é um diálogo, onde a humanidade responde a Deus e busca entendê-lo.
A continuidade da mensagem bíblica
Apesar de ser composta por 66 livros escritos por mais de 40 autores em um período de cerca de 1.500 anos, a Bíblia tem uma continuidade notável em sua mensagem.
De Gênesis a Apocalipse, o tema do amor redentor de Deus e do plano de salvação é evidente. Hebreus 4:12 diz: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes”.
A continuidade da Bíblia testemunha sua inspiração divina, pois, apesar dos diversos escritos e contextos, a mensagem central permanece inalterada.
A autoridade e infalibilidade da bíblia
A Bíblia, além de ser um livro inspirado, é também infalível em seu ensino. Isso significa que, em questões de fé e prática, a Bíblia é a autoridade final.
Jesus mesmo validou as Escrituras em Mateus 5:18: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido”. Esta afirmação de Jesus afirma a autoridade e a eternidade da Palavra de Deus.
Erros cometidos por líderes, pastores e mestres da atualidade
Na contemporaneidade, há uma tendência preocupante entre alguns líderes, pastores e mestres em interpretar a Bíblia de maneira distorcida, afirmando que ela apenas “contém” a Palavra de Deus, em vez de “ser” a Palavra de Deus.
Esta mudança sutil na formulação, embora possa parecer insignificante à primeira vista, tem implicação profunda para afirmação da autoridade e a inerrância das Escrituras.
Isaías 40:8 proclama: “A erva seca, e a flor cai, mas a palavra de nosso Deus subsiste eternamente.” Este versículo reitera a permanência e a infalibilidade da Palavra de Deus.
1ª Pedro 1:25 nos lembra: “[…], mas a palavra do Senhor permanece para sempre”. Quando líderes e professores marginalizam a autoridade da Bíblia, eles podem introduzir doutrinas e ensinamentos humanos que podem desviar os cristãos da verdade pura das Escrituras.
Além disso, Provérbios 30:5-6 adverte: “toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam”. Isso ilustra a importância de manter a integridade das Escrituras e não distorcer seu significado para se adequar às tendências ou crenças contemporâneas.
Ao refletir sobre essa tendência, é essencial que os cristãos estejam enraizados, na verdade das Escrituras e reconheçam sua autoridade e inspiração divina.
A Bíblia não é simplesmente um compêndio de ensinamentos divinos misturados com pensamentos humanos. É A PALAVRA DO PRÓPRIO DEUS.
Afirmar que a Bíblia apenas “contém” a Palavra de Deus pode sugerir que outras partes não são inspiradas.
Conclusão
Entender a Bíblia como a Palavra de Deus oferece uma abordagem mais rica das Escrituras. Permite-nos ver a mão de Deus guiando a humanidade ao longo da história, bem como a resposta humana ao divino.
Em última análise, a Bíblia é um testamento da interação entre Deus e a humanidade. Em suas páginas, encontramos a voz de Deus, guiando e redimindo, bem como a busca incessante da humanidade por compreensão, propósito e salvação.
Perguntas frequentes
1. O que significa dizer que a Bíblia é “inspirada” por Deus?
Quando se diz que a Bíblia é “inspirada”, refere-se ao fato de que Deus orientou os escritores humanos para escreverem exatamente o que Ele queria que fosse registrado. 2ª Timóteo 3:16 afirma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir em justiça”.
2. Se a Bíblia foi escrita por homens, como pode ser a Palavra de Deus?
A Bíblia, embora escrita por mãos humanas, foi composta sob a inspiração e orientação divina. Deus não anulou a personalidade ou o estilo de escrita dos autores, foram usados para transmitir Sua mensagem de maneira clara e precisa.
3. A Bíblia tem contradições ou erros?
Muitas pessoas afirmam que a Bíblia tem contradições, mas muitas dessas alegações são mal-entendidas ou interpretadas. Ao analisar o contexto e compreender a linguagem e a cultura da época, todas essas “contradições” pode ser esclarecida.
4. Como podemos confiar que a Bíblia de hoje é a mesma de séculos atrás?
Por meio de manuscritos antigos, descobertas arqueológicas e comparações textuais, os estudiosos têm confiança de que a Bíblia que temos hoje reflete com precisão os originais. A quantidade e a consistência dos manuscritos bíblicos superam de outros documentos antigos.
5. Por que algumas pessoas dizem que a Bíblia apenas “contém” a Palavra de Deus?
Algumas pessoas fazem essa afirmação para diferenciar entre o que veem como ensinamentos culturais ou históricos e os “verdadeiros” ensinamentos divinos. No entanto, essa perspectiva é um erro e pode comprometer a autoridade total das Escrituras e sua inspiração divina.
Referências bibliográficas
Bíblia. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
SCHMID, Konrad; SCHROTER, Jens. O surgimento da Bíblia: Dos primeiros textos às Sagradas Escrituras. 1ª edição. Rio de Janeiro: Vozes, 2023.
SILVA, Antônio Gilberto da. A Bíblia através dos séculos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1986.
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