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As técnicas narrativas nos evangelhos

Os evangelhos do Novo Testamento são um conjunto fascinante de textos que não apenas transmitem a mensagem cristã, mas também demonstram uma variedade de técnicas narrativas.

Estas técnicas, cada uma com suas características e finalidades, enriquecem a compreensão das escrituras e oferecem uma janela para a cultura e os métodos de ensino da época.

Cada forma literária nos evangelhos serve a um propósito específico, seja para ilustrar um princípio moral, esclarecer uma doutrina, ou revelar aspectos da pessoa e da obra de Jesus.

Este artigo visa explorar oito dessas técnicas narrativas, utilizando exemplos específicos dos evangelhos para ilustrar sua aplicação e significado.

Parábolas: ensinos por meio de histórias

As parábolas são histórias curtas usadas para ilustrar uma verdade ou lição moral. Jesus frequentemente usava parábolas para ensinar, como a do semeador em Mateus 13:3-9. Aqui, a semente representa a palavra de Deus e os diferentes tipos de solo, como diversas respostas das pessoas à mensagem do evangelho.

A parábola do filho pródigo em Lucas 15:11-32 é outro exemplo. Esta história não apenas mostra o amor incondicional de Deus, mas também explora temas de arrependimento e reconciliação. A narrativa concreta e imaginativa das parábolas torna os ensinamentos de Jesus acessíveis e memoráveis.

Parábolas como a do bom samaritano (Lucas 10:30-37) desafiam os ouvintes a reconsiderar suas concepções sobre moralidade e compaixão. Cada parábola é uma janela para o reino de Deus, oferecendo ensinos profundos em uma forma narrativa simples.

Alegorias: verdades veladas em metáforas

Diferentemente das parábolas, as alegorias nos evangelhos são histórias ou declarações onde cada elemento simboliza uma ideia mais profunda. Um exemplo é a alegoria da Videira em João 15:1-8, onde Jesus é a videira, e os discípulos são os ramos. A alegoria enfatiza a importância da permanência em Cristo para dar fruto.

A alegoria do Trigo e do Joio em Mateus 13:24-30 ilustra a realidade do Reino de Deus misturado com o mal no mundo. A separação final entre o bom (trigo) e o mau (joio) ocorrerá no julgamento, uma ideia central no ensinamento de Jesus sobre o fim dos tempos.

Alegorias como essas permitem que verdades complexas sejam expressas de maneira mais compreensível. Eles convidam os leitores a uma reflexão mais profunda sobre os mistérios do reino de Deus e a natureza da vida espiritual.

Relatos: demonstração do poder divino

Os relatos nos evangelhos são narrativas que descrevem eventos específicos da vida de Jesus. Por exemplo, o relato do batismo de Jesus em Mateus 3:13-17 destaca tanto o cumprimento das profecias do Antigo Testamento quanto à identidade e missão de Jesus.

Relatos como a ressurreição de Lázaro em João 11:1-44 não apenas contam um milagre impressionante, mas também ilustram o poder de Jesus sobre a morte e sua compaixão pela humanidade. Esses relatos são fundamentais para entender quem era Jesus e o que ele representava.

Anunciações: revelações de propósitos divinos

A anunciação revela propósitos, a concepção e nascimento de Jesus, um elemento central nos evangelhos, é um exemplo de anunciação. Descrito em Lucas 1:26-38, o anúncio do nascimento de Jesus a Maria pelo anjo Gabriel, destaca a intervenção divina e o cumprimento da profecia messiânica.

Este anúncio não apenas estabelece a natureza divina de Jesus, mas também enfatiza a importância da fé e obediência, como visto na resposta de Maria: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra”. A declaração serve como um ponto de conexão entre o divino e o humano.

Outro exemplo de anunciação é encontrado em Mateus 1:20-23, onde José é informado em sonho sobre o nascimento virginal de Jesus. Estas narrativas de declaração estabelecem o contexto para a entrada do Messias no mundo, de sua concepção e missão.

Midrash: interpretação e expansão das escrituras

O Midrash, uma forma judaica de interpretação bíblica que expande as histórias das Escrituras, é visível nos evangelhos. Por exemplo, Mateus utiliza frequentemente o Midrash para mostrar como os eventos da vida de Jesus cumprem as profecias do Antigo Testamento, como em Mateus 2:15: “Para se cumprir o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Do Egito chamei o meu Filho.”

Esta abordagem midráshica conecta os ensinamentos de Jesus e os eventos de sua vida às tradições judaicas, ressaltando a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. Isso fortalece a compreensão de Jesus como o cumprimento das esperanças messiânicas do judaísmo.

O uso do Midrash nos Evangelhos não é meramente uma ferramenta literária; ele revela uma profunda interação entre as tradições judaicas e os ensinamentos cristãos, mostrando como Jesus é visto no contexto mais amplo da história da salvação.

Sentenças encaixadas: camadas de ensinamentos

As sentenças encaixadas, ou “quiasmos”, são uma técnica literária onde elementos são apresentados e depois repetidos em ordem inversa. Um exemplo é encontrado em Marcos 2:27: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”. Esta estrutura enfatiza a prioridade do humano sobre o ritual.

Este estilo de escrita serve para destacar contrastes ou reforçar postos-chave, frequentemente usados ​​por Jesus em seus ensinamentos. Essa técnica ajuda a destacar a importância de certos ensinamentos e a criar um impacto significativo na mente dos ouvintes e leitores.

Outro exemplo de sentença encaixada é a famosa declaração em Marcos 8:35: “Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por minha causa e do evangelho, salvá-la-á”. Este uso enfatiza o paradoxo central do discipulado cristão.

Composição: estrutura e fluxo da narrativa

A composição dos evangelhos reflete a habilidade dos autores em entrelaçar vários tipos de narrativas para criar uma narrativa coesa. Por exemplo, em Lucas, a jornada de Jesus a Jerusalém é um elemento de composição que molda a narrativa, culminando na sua paixão e ressurreição.

Esta técnica de composição também é vista na forma como os milagres e ensinamentos são agrupados. Em Marcos, por exemplo, a sequência de milagres serve para revelar progressivamente a identidade e a missão de Jesus, enquanto os ensinamentos são estrategicamente posicionados para ilustrar suas doutrinas.

A habilidade dos evangelistas em tecer eventos históricos, ensinamentos, parábolas e milagres em um fluxo contínuo de narrativa demonstra não apenas sua destreza literária, mas também seu entendimento profundo da mensagem que desejavam transmitir.

Controvérsias: diálogos sobre questões complexas

As narrativas de controvérsia nos evangelhos, especialmente em confrontos entre Jesus e os líderes religiosos, são fundamentais para entender a tensão entre o ensino de Jesus e as tradições judaicas. Um exemplo é encontrado em Mateus 22:15-22, onde Jesus responde à pergunta sobre o pagamento de impostos a César.

Esta configuração de narrativa não apenas destacam a sabedoria e autoridade de Jesus, mas também desafiam normas sociais e religiosas. Eles frequentemente culminam em declarações profundas sobre a lei, a justiça e a misericórdia, como em Lucas 11:42, onde Jesus critica os fariseus por negligenciarem a justiça e o amor de Deus.

As narrativas de controvérsia nos evangelhos também visam esclarecer a mensagem do reino de Deus e a natureza do verdadeiro discipulado, contrastando frequentemente os ensinamentos de Jesus com as práticas cristãs contemporâneas.

As diversas configurações narrativas encontradas nos evangelhos não são apenas evidências da riqueza literária destes textos, mas também testemunhos da profundidade dos ensinamentos de Jesus. Cada técnica literária usada pelos evangelistas serve para destacar diferentes aspectos da mensagem cristã.

Conclusão

Ao estudar essas configurações narrativas, ganhamos uma apreciação mais rica pela maneira como os evangelhos foram compostos. Elas revelaram um tecido intricado de histórias e ensinamentos que juntos formam a base da fé cristã.

Em última análise, a diversidade literária dos evangelhos é um convite para uma leitura mais profunda e reflexiva. Ela nos encorajou a explorar as muitas camadas de significado encontradas nestes textos sagrados e a aplicar essas verdades à nossa vida.

Leia também: 

87 perguntas bíblicas e teológicas sobre os evangelhos

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