Os capítulos 3, 4 e 5 do primeiro livro dos Reis apresentam uma fase crucial no reinado de Salomão, marcando o início de sua administração, a consolidação do seu poder e a preparação para a construção do Templo do Senhor.
A narrativa é rica em detalhes sobre o relacionamento de Salomão com Deus, sua estrutura governamental, a organização do reino e alianças diplomáticas importantes.
Esses capítulos destacam-se não apenas por seu valor histórico, mas também por suas lições teológicas sobre sabedoria, fidelidade e adoração correta.
Ao analisar estes três capítulos, encontramos uma visão abrangente da figura de Salomão: um jovem rei que inicia seu reinado com humildade e dependência de Deus, pedindo sabedoria para governar com justiça.
Sua celebre decisão no caso das duas mulheres que disputavam a maternidade de uma criança é uma prova prática dessa sabedoria divina.
É também nesse período inicial que vemos a estruturação administrativa do reino e sua expansão política e econômica.
Com base em uma análise teológica e histórica, este artigo visa apresentar um resumo detalhado dos eventos e ensinos contidos em 1º Reis 3 a 5, com uma abordagem acessível, didática e rica em conteúdo.
Serão explorados seis tópicos principais, abrangendo desde a oração de Salomão por sabedoria até os preparativos para a construção do Templo, destacando elementos-chave da narrativa bíblica.
O pedido de sabedoria por Salomão
A narrativa do capítulo 3 inicia-se com uma aliança política: Salomão casa-se com a filha de Faraó, rei do Egito.
Embora estratégica, essa aliança representava um desvio dos princípios da Lei de Deus, que advertia contra uniões com povos idólatras.
Esse casamento prefigura as futuras concessões espirituais de Salomão, que o levariam, mais adiante, à idolatria.
Em seu reinado, apesar do povo utilizar os “altos” como locais de adoração, Salomão demonstrava amor ao Senhor e seguia os preceitos de seu pai, Davi.
O local de Gibeão, onde ofereceu mil holocaustos, era o alto maior, pois o Templo ainda não havia sido construído. Neste contexto, Deus aparece a Salomão em sonhos e lhe oferece o que desejar.
O rei pede discernimento para julgar o povo de forma justa, reconhecendo sua juventude e inexperiência.
Esse pedido agrada a Deus, que, além de conceder sabedoria, promete riquezas, glória e longa vida, condicionada à obediência.
Assim, Salomão é dotado de um coração compreensivo, antecipando os feitos de sabedoria que marcariam sua administração.
O julgamento das duas mulheres
O trecho final do capítulo 3 apresenta um exemplo prático da sabedoria concedida por Deus a Salomão.
Duas mulheres que haviam dado à luz quase ao mesmo tempo, comparecem diante do rei, alegando cada uma ser a mãe de um mesmo bebê. Sem testemunhas, a verdade não poderia ser comprovada por meios tradicionais.
Diante do impasse, Salomão propõe cortar o bebê ao meio, oferecendo metade a cada mulher.
A verdadeira mãe, movida por amor, prefere abrir mão do filho a vê-lo morto, revelando-se assim a mãe legítima.
Este julgamento consolidou a fama de Salomão em todo Israel, fazendo com que o povo reconhecesse que a sabedoria de Deus estava com ele para fazer justiça. Esse episódio simboliza a missão real de promover a justiça social.
A narrativa também aponta para um atributo divino essencial: Deus conhece os corações, e Salomão, como Seu representante, recebe tal discernimento para governar. O povo respeita sua liderança, vendo nela um reflexo da justiça divina.
A estrutura administrativa do reino
O capítulo 4 começa com a descrição detalhada dos principais oficiais do reino de Salomão.
Essa lista demonstra a organização sofisticada do governo, com funções bem definidas como secretários, cronistas, sacerdotes, comandantes militares, intendentes e conselheiros pessoais.
O texto também menciona os doze governadores distritais, cada um responsável por uma região e por fornecer provisões à corte durante um mês do ano.
A ausência de Judá nessa divisão administrativa sugere uma distinção privilegiada para essa tribo, o que viria a ser um ponto de tensão no futuro.
Essa centralização administrativa revela uma mudança significativa em relação ao reinado de Davi, com foco na estabilidade, diplomacia e expansão econômica. Salomão aparece como um rei mais político e gestor do que guerreiro, refletindo o período de paz e prosperidade que caracterizou seu reinado.
A prosperidade e o esplendor do reino
Sob Salomão, Israel alcançou um auge de prosperidade jamais visto antes. O povo de Judá e Israel era numeroso como a areia do mar, comendo, bebendo e se alegrando.
Salomão dominava uma vasta extensão territorial, que incluía reinos tributários, e havia paz em toda a região.
Os versículos relatam a abundância de provisões diárias da corte, que incluíam farinha fina, carne bovina, ovina e aves.
Havia também grande quantidade de cavalos e cavaleiros, além de celeiros abastecidos com cevada e palha. Isso evidencia uma economia altamente produtiva e um sistema logístico eficiente.
Entretanto, essa opulência exigia altos tributos do povo, o que, mais adiante, causaria descontentamento.
Além disso, o acúmulo de cavalos contrariava a Lei de Deus (Deuteronômio 17:16), mostrando que, apesar da sabedoria, Salomão começava a transgredir princípios divinos.
A fama da sabedoria de Salomão
Deus concedeu a Salomão sabedoria, entendimento profundo e conhecimento amplo, comparados à areia do mar.
Sua sabedoria excedia a dos antigos orientais e egípcios, o que o tornou renomado entre todas as nações vizinhas. Esse reconhecimento internacional mostra o impacto espiritual e cultural do seu reinado.
O rei compôs três mil provérbios e mil e cinco cânticos, com destaque para o Cântico dos Cânticos.
Ele também dissertava sobre natureza, botânica e zoologia, evidenciando uma sabedoria que ia além da prática governamental.
Sua capacidade intelectual era tão vasta que atraiu estudiosos e emissários de diversas partes da Terra.
Esse legado destaca Salomão como um protótipo de rei-sábio. Contudo, sua sabedoria, embora divina, exigia permanência na obediência.
O reconhecimento internacional e os frutos de sua inteligência não substituíam a necessidade de fidelidade aos mandamentos do Senhor.
A aliança com Hirão e os preparativos para o templo
O capítulo 5 inicia-se com a confirmação da amizade entre Salomão e Hirão, rei de Tiro, que havia sido aliado de Davi.
Salomão informa a Hirão sobre sua intenção de construir o Templo do Senhor, conforme promessa divina feita a seu pai.
Essa construção só era possível agora, pois o reino gozava de paz por todos os lados.
Salomão solicita madeira do Líbano e trabalhadores especializados, enquanto se compromete a pagar Hirão com alimentos.
O acordo é aceito com alegria pelo rei fenício, e ambos firmam uma aliança. Essa colaboração reflete a influência internacional de Salomão e sua habilidade diplomática.
O rei de Israel organiza uma grande leva de trabalhadores, somando milhares de homens, entre carregadores, talhadores de pedra e chefes de obras.
A preparação das pedras e da madeira demonstra o cuidado e a dimensão monumental da obra. O Templo seria o centro da adoração ao Deus de Israel.
Conclusão
Os capítulos 3 a 5 de 1º Reis revelam um período de início promissor no reinado de Salomão, repleto de sabedoria, organização e prosperidade.
A oração de Salomão por sabedoria mostra sua consciência espiritual e dependência de Deus, característica essencial para qualquer líder que deseje agradar ao Senhor e servir bem ao povo.
A demonstração dessa sabedoria, especialmente no julgamento entre as duas mulheres, solidificou sua reputação.
Além disso, a formação de um governo estruturado e a abundância econômica indicam um reinado organizado e forte.
Contudo, começam a surgir indícios de que a sabedoria não substitui a obediência total.
Por fim, a aliança com Hirão e os preparativos para o Templo revelam o cumprimento parcial da promessa de Deus a Davi. Salomão torna-se um instrumento de realização dos planos divinos.
Esses capítulos nos lembram que a sabedoria verdadeira vem de Deus e que o sucesso duradouro requer fidelidade à Sua vontade.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.