O livro de Esdras é fundamental para compreendermos o período pós-exílico do povo de Israel, quando os judeus retornam do cativeiro babilônico e iniciam a restauração de Jerusalém e do Templo.
Nos capítulos 1 a 4, observamos eventos marcantes: o decreto de Ciro, o levantamento dos exilados, a reconstrução do altar e do templo, e a oposição à obra.
Esse trecho demonstra não apenas o cumprimento profético das promessas de restauração, mas também a soberania divina em meio às ameaças externas e desafios internos.
Ciro, rei da Pérsia, aparece como instrumento nas mãos de Deus, conforme profetizado por Isaías, para permitir o retorno dos judeus à sua terra e a reconstrução da Casa do Senhor.
A organização dos que retornaram, liderados por Zorobabel e Jesua, e sua dedicação à obra sagrada destacam-se como exemplos de fidelidade e coragem em meio a opressão e dificuldades.
Este artigo se propõe a fazer um resumo explicativo dos quatro primeiros capítulos do livro de Esdras, com riqueza de detalhes, fidelidade ao texto bíblico, linguagem clara, fácil compreensão e profundidade teológica, atendendo aos mais exigentes padrões de estudo bíblico.
O decreto de Ciro e o chamado Divino (Esdras 1:1-4)
O capítulo 1 inicia com um marco histórico-espiritual: “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para cumprir a palavra do SENHOR por boca de Jeremias, despertou o SENHOR o espírito de Ciro” (Esdras 1:1). Este versículo expressa claramente o domínio soberano de Deus sobre a história e sobre os reis da terra, conforme Provérbios 21:1.
O decreto de Ciro permite que os judeus retornem a Jerusalém e reconstruam o Templo, encerrando os setenta anos de cativeiro.
O decreto também reconhece que o “SENHOR, Deus dos Céus” deu a Ciro os reinos da terra (v.2), mostrando a consciência da missão divina atribuída a ele.
Ao autorizar a reconstrução do Templo, Ciro não apenas promove uma ação política, mas colabora com o cumprimento de um plano espiritual muito maior.
Além da autorização, o decreto convoca o povo a contribuir com recursos. Essa colaboração internacional demonstra como Deus moveu não apenas Ciro, mas também os corações ao redor para abençoar seu povo.
Os preparativos e a devolução dos utensílios (Esdras 1:5-11)
O despertar espiritual promovido por Deus não ficou apenas na figura de Ciro. “Levantaram-se os cabeças de famílias de Judá e de Benjamim, e os sacerdotes, e os levitas” (v.5).
Este versículo mostra que a obra de Deus requer liderança comprometida e corações tocados pela Sua vontade.
O texto enfatiza que os vizinhos também ajudaram com dons e ofertas (v.6), enquanto Ciro restituiu os utensílios do Templo que Nabucodonosor havia levado para a Babilônia (v.7-8).
Essa ação revela o zelo de Deus em restaurar não apenas as pessoas, mas também os elementos simbólicos de adoração.
A precisão dos registros impressiona: trinta bacias de ouro, mil bacias de prata, trinta taças de ouro, entre outros (v.9-10).
Ao todo, cinco mil e quatrocentos utensílios (v.11). Isso ensina sobre a importância dos detalhes e da santidade nos aspectos do culto.
A lista dos exilados que retornaram (Esdras 2)
O capítulo 2 apresenta uma longa lista dos exilados que voltaram a Judá, totalizando quarenta e dois mil trezentos e sessenta (v.64), além de servos, animais e cantores (v.65-67).
Esta lista tem grande valor genealógico e identitário, pois confirma a legitimidade dos retornados como descendentes de Israel.
O texto é detalhado e divide os grupos por famílias, cidades de origem, funções sacerdotais e serviços do Templo.
Além disso, destaca os que não puderam provar sua linhagem (v.59-63), que foram excluídos do sacerdócio até uma confirmação divina por Urim e Tumim. Este cuidado preservava a pureza da adoração e do ministério.
A oferta voluntária para o Templo é outra marca relevante. Cabeças de famílias doaram ouro, prata e vestes sacerdotais (v.68-69).
Isso reflete o zelo do povo pela restauração da Casa do Senhor e seu compromisso financeiro com o culto.
Reconstrução do altar e lançamento dos alicerces (Esdras 3)
No sétimo mês, Jesua e Zorobabel lideram o povo para levantar o altar do Deus de Israel (v.1-2).
Mesmo sob o medo dos povos vizinhos (v.3), eles priorizam a adoração e seguem a Lei de Moisés.
Essa decisão espiritual tem profunda importância: antes mesmo do templo, o altar foi reerguido.
A celebração da Festa dos Tabernáculos é realizada com fidelidade às Escrituras (v.4-5), mostrando o desejo do povo de recomeçar corretamente.
Começam então os preparativos para a construção do templo: contratos com pedreiros, carpinteiros e importadores de madeira do Líbano (v.7).
No segundo ano, os alicerces do templo são lançados (v.8-9) e uma grande celebração acontece com louvores e trombetas (v.10-11).
No entanto, os mais velhos choram ao lembrar da glória do primeiro templo (v.12), enquanto outros se alegram. Esse contraste revela as marcas do passado e a esperança do futuro.
Oposição dos adversários (Esdras 4:1-5)
Quando os inimigos de Judá e Benjamim souberam da reconstrução do templo, ofereceram ajuda, alegando também adorar ao Deus de Israel (v.1-2).
Zorobabel e Jesua recusam, dizendo: “Nada tendes conosco na edificação da casa a nosso Deus” (v.3), pois sabiam que esses adversários misturavam idolatria com culto a Jeová.
A rejeição causou hostilidade. Os adversários passaram a desanimar e perturbar os judeus (v.4).
Usaram estratégias políticas, contratando conselheiros para frustrar a obra, desde os dias de Ciro até o reinado de Dario (v.5).
Esse trecho mostra que nem toda “ajuda” é bem-vinda, especialmente quando contamina a santidade do culto.
Os líderes demonstraram discernimento espiritual e coragem para manter a pureza da missão.
Cartas de acusação e suspensão da obra (Esdras 4:6-24)
A oposição se intensifica com cartas de acusação enviadas ao rei Assuero (v.6) e, posteriormente, ao rei Artaxerxes (v.7-10).
Os acusadores alegam que Jerusalém é uma cidade rebelde, e se reconstruída, trará prejuízos ao império (v.12-16).
O rei manda interromper as obras (v.21), e os inimigos vão com força armada fazer cessar a construção (v.23).
O versículo 24 conclui: “Cessou, pois, a obra da Casa de Deus… até ao segundo ano do reinado de Dario”.
Embora fora de ordem cronológica, essa narrativa mostra os diversos períodos de oposição enfrentados pelos judeus.
A fidelidade de Deus, contudo, não será frustrada, como se verá nos capítulos seguintes.
Conclusão
Os capítulos 1 a 4 de Esdras formam uma narrativa poderosa de restauração, resistência e esperança.
Eles nos ensinam que, mesmo em meio ao exílio, Deus não abandona o Seu povo e move reis e nações para cumprir Seus propósitos eternos.
O retorno dos judeus à sua terra e a restauração do culto revelam o compromisso divino com Suas promessas.
As dificuldades enfrentadas pelos judeus não foram poucas: ameaças externas, oposição interna, acusações políticas.
Contudo, a firmeza de líderes como Zorobabel e Jesua, e a unidade do povo, mostram como é possível manter a fé diante da adversidade.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.