Os capítulos 5 e 6 do livro de Números apresentam importantes diretrizes dadas por Deus ao povo de Israel por meio de Moisés, enfatizando a necessidade de pureza, justiça e consagração.
Essas instruções estavam diretamente relacionadas à presença divina no meio do povo, tornando essencial a remoção de qualquer impureza e a prática da santidade no acampamento israelita.
No capítulo 5, encontramos leis acerca da pureza no arraial, exigindo a exclusão de pessoas que possuíssem doenças contagiosas ou que estivessem ritualmente impuras.
Além disso, há instruções sobre a restituição em casos de ofensa contra o próximo e um intrigante ritual para determinar a fidelidade conjugal de uma mulher suspeita de adultério.
O capítulo 6 trata do nazireado, um voto especial de consagração a Deus, que exigia a abstinência de vinho e produtos derivados da uva, o não corte dos cabelos e a proibição de contato com mortos.
O capítulo encerra-se com a belíssima bênção sacerdotal, que expressa o desejo divino de paz e proteção sobre o povo de Israel.
A pureza do arraial (Números 5:1-4)
Deus ordenou que fossem retirados do acampamento todo aquele que estivesse leproso, quem tivesse fluxo corporal e qualquer um que houvesse tocado em um morto.
A razão para essa medida era a santidade do acampamento, onde Deus habitava no meio do povo (Deuteronômio 23:14). O pecado e a impureza não podiam coexistir com a presença divina.
Essa ordem de exclusão não visava discriminação ou crueldade, mas sim a preservação da comunidade e a manutenção da pureza cerimonial exigida pela Lei.
O contato com a morte ou doenças contagiosas era visto como algo que comprometia a saúde e santidade do povo.
Os israelitas obedeceram prontamente às ordens divinas e expulsaram do arraial todos os que estavam nessas condições.
Esse ato demonstra a obediência do povo e sua compreensão sobre a necessidade de santidade diante do Senhor.
A lei da restituição (Números 5:5-10)
A justiça divina exigia que qualquer um que cometesse um pecado contra outra pessoa fizesse restituição, devolvendo o bem apropriado de maneira ilícita, acrescido de vinte por cento do valor.
Essa prática reforçava a responsabilidade individual e a importância de reparar os danos causados ao próximo.
Caso a vítima não estivesse mais viva e não houvesse um parente próximo para receber a restituição, o valor era entregue ao sacerdote, acompanhado de um carneiro expiatório.
Esse sistema demonstrava o compromisso de Israel com a justiça e a necessidade de confissão e arrependimento.
A legislação da restituição reflete o caráter de Deus, que deseja que Seu povo seja justo e íntegro em seus relacionamentos.
Esse princípio também aparece no Novo Testamento, quando Zaqueu, ao encontrar Jesus, decide restituir quadruplicadamente qualquer valor que tenha tomado de forma desonesta (Lucas 19:8).
O ritual da mulher suspeita de adultério (Números 5:11-31)
Quando um marido suspeitava da infidelidade de sua esposa, mas não tinha provas concretas, a Lei determinava que ela fosse levada ao sacerdote para passar por um ritual de julgamento divino.
Esse procedimento era conhecido como “ordálio” e consistia na ingestão de água misturada com pó do chão do tabernáculo (Números 5:17).
Se a mulher fosse culpada, sofreria consequências físicas, como o inchaço do ventre e a queda da coxa, simbolizando sua infidelidade.
Caso fosse inocente, não sofreria dano algum e poderia seguir sua vida normalmente. Esse ritual servia para resolver disputas conjugais e evitar condenações injustas.
Esse julgamento tinha um propósito espiritual e social. Evitava que o casamento fosse destruído por suspeitas infundadas e deixava a decisão final nas mãos de Deus, que revelaria a verdade através do ritual.
O nazireado e sua consagração (Números 6:1-21)
O voto de nazireado era um compromisso especial de dedicação a Deus, assumido voluntariamente.
Durante o período do voto, o nazireu deveria seguir três restrições principais: não podia consumir nenhum produto da uva, não podia cortar o cabelo e não podia se aproximar de um morto, nem mesmo de um parente próximo.
Caso o nazireu se contaminasse acidentalmente, deveria cumprir um rito de purificação e reiniciar o período de consagração.
Ao final do tempo determinado, oferecia sacrifícios e raspava a cabeleira, que era queimada no altar.
Figuras bíblicas como Sansão, Samuel e João Batista foram nazireus de forma vitalícia. O voto expressava um compromisso profundo de serviço e santidade diante de Deus.
A bênção sacerdotal (Números 6:22-27)
Ao final do capítulo 6, Deus instrui Moisés a ensinar a Arão e seus filhos a bênção sacerdotal.
Essa bênção contém três partes fundamentais: a proteção de Deus, Sua graça e a paz divina.
A expressão “O Senhor te abençoe e te guarde” destaca a providência divina.
“O Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti” enfatiza o favor de Deus, e “O Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz” mostra a plenitude do Shalom divino sobre o povo.
Essa bênção sacerdotal é usada até os dias de hoje como uma expressão poderosa do desejo de Deus para Seu povo: prosperidade, favor e paz.
Conclusão
Os capítulos 5 e 6 de Números enfatizam a santidade de Deus e a necessidade de pureza entre Seu povo.
Desde a remoção da impureza até a consagração especial dos nazireus, esses textos revelam o compromisso de Israel com a santidade.
A Lei também abordava questões morais e relacionais, garantindo justiça e prevenindo a destruição de lares.
O ritual da mulher suspeita de adultério e a restituição de bens demonstram o compromisso de Deus com a verdade e a integridade.
Por fim, a bênção sacerdotal encerra esse trecho com uma mensagem de esperança, revelando o desejo divino de paz, proteção e graça para Seu povo.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.