Os capítulos 5, 6 e 7 registram eventos decisivos no processo do retorno dos judeus do exílio babilônico e a reconstrução do Templo em Jerusalém, destacando o papel da liderança espiritual, da intervenção divina e do apoio dos reis persas.
Esdras, como sacerdote e escriba, torna-se figura central na restauração religiosa e cultural do povo de Israel.
Esses capítulos mostram o recomeço das obras do Templo após um período de paralisação causado por oposição externa.
A atuação dos profetas Ageu e Zacarias, inspirados pelo Espírito Santo, despertou a motivação espiritual dos líderes Zorobabel e Jesua para retomar a reconstrução, mesmo diante da vigilância e questionamentos por parte das autoridades persas.
No capítulo 7, temos a apresentação de Esdras e seu papel como escriba versado na Lei de Moisés, enviado pelo rei Artaxerxes.
Sua missão não era apenas administrativa, mas profundamente espiritual, pois visava consolidar o povo em torno da Palavra de Deus.
A seguir, exploraremos os principais eventos e ensinos desses três capítulos, detalhando suas lições históricas e teológicas.
A reativação da reconstrução pelo incentivo profético (Esdras 5:1-2)
A retomada da construção do Templo ocorreu por iniciativa espiritual, não por mandado real.
Ageu e Zacarias profetizaram aos judeus, exortando-os a priorizar a Casa do Senhor, em vez de seus próprios interesses (Ageu 1:4; Zacarias 4:6).
Este momento marca a importância da liderança espiritual e da Palavra de Deus no direcionamento da comunidade de fé.
Zorobabel e Jesua, movidos por essas profecias, começaram novamente a reconstruir o Templo.
É digno de nota que os profetas não apenas pregavam, mas também ajudavam ativamente na obra (Esdras 5:2).
O envolvimento deles demonstra que a verdadeira liderança espiritual se compromete com a obra de Deus em todos os níveis.
Este recomeço não foi isento de desafios. O contexto histórico mostrava um império persa com instabilidades, mas a obediência ao Senhor trouxe à tona a sua providência.
Assim, os judeus agiram com coragem, conscientes de que estavam sob os olhos atentos de Deus (Esdras 5:5).
Questionamentos e oposição das autoridades persas (Esdras 5:3-17)
A retomada das obras logo chamou a atenção de Tatenai, governador daquém do Eufrates, e de seus companheiros, que questionaram a autoridade dos judeus para reconstruir o Templo.
Este questionamento foi feito com certa moderação, comparada à oposição vista no capítulo 4, sendo enviada uma carta ao rei Dario para esclarecimentos (Esdras 5:6-17).
Os anciãos dos judeus responderam com firmeza e sabedoria. Declararam-se servos do Deus dos céus e da terra, e explicaram que estavam reconstruindo uma casa que havia sido destruída por Nabucodonosor devido aos pecados de seus antepassados (Esdras 5:11-12). Também citaram o decreto de Ciro como base legal para a reconstrução.
Essa abordagem combinava fidelidade espiritual e estratégia diplomática. Ao relatar os fatos de forma clara e honesta, os judeus demonstraram confiança tanto em Deus quanto nos registros históricos que sustentavam seu direito.
A carta enviada por Tatenai pedia que se confirmasse nos arquivos reais se tal decreto realmente existia.
A confirmação do decreto de Ciro e o apoio de Dario (Esdras 6:1-12)
A resposta do rei Dario foi favorável aos judeus. Após uma busca nos arquivos reais, foi encontrado em Acmetá o decreto de Ciro que autorizava a reconstrução do Templo (Esdras 6:2-5).
O documento detalhava não apenas a permissão, mas também o financiamento do projeto com recursos da casa do rei.
Dario, ao confirmar a autenticidade do decreto, emitiu nova ordem exigindo que a obra não fosse interrompida.
Além disso, instruiu que os custos da reconstrução fossem pagos com os tributos da região e que os sacerdotes recebessem suprimentos diários para os sacrifícios (Esdras 6:8-10).
O rei estabeleceu ainda uma sanção severa para quem alterasse seu decreto: seria executado de maneira humilhante, e sua casa destruída (Esdras 6:11).
Essa decisão reforça como Deus move os corações dos reis para cumprir seus propósitos soberanos.
Conclusão da obra e dedicação do Templo (Esdras 6:13-22)
Com a confirmação real, os judeus retomaram a construção com novo ânimo. Sob a liderança dos anciãos e com o apoio de Ageu e Zacarias, o Templo foi concluído no sexto ano do reinado de Dario, cerca de quatro anos após a retomada das obras (Esdras 6:14-15).
A dedicação foi marcada por grande alegria e celebração espiritual. Foram oferecidos sacrifícios em representação das doze tribos de Israel, demonstrando o anseio por restauração completa da nação (Esdras 6:17).
Em seguida, os sacerdotes e levitas foram organizados conforme as diretrizes mosaicas. A celebração da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos foi outro marco espiritual.
O povo reconheceu que o favor de Deus lhes havia sido restaurado, inclusive tocando o coração do rei para fortalecê-los (Esdras 6:22). Essa restauração espiritual reafirma a fé como eixo central da identidade judaica.
A chegada de Esdras e seu papel como escriba (Esdras 7:1-10)
Aproximadamente 58 anos após a dedicação do Templo, Esdras surge como nova figura central na liderança espiritual de Israel.
Descendente de Arão, sua genealogia lhe conferia autoridade sacerdotal, e sua erudição na Lei do Senhor o qualificava como escriba (Esdras 7:1-6).
Esdras era um homem inteiramente dedicado à Palavra. O versículo 10 destaca três compromissos fundamentais: buscar a Lei, praticá-la e ensiná-la. Esse modelo tríplice de liderança espiritual é exemplar até os dias de hoje.
Sua chegada a Jerusalém foi marcada pela boa mão de Deus sobre ele. Esdras representa a transição do foco apenas na reconstrução física para a restauração espiritual do povo.
Sua missão tinha o objetivo de consolidar a Lei como fundamento da vida comunitária.
O decreto de Artaxerxes e os poderes concedidos a Esdras (Esdras 7:11-28)
O rei Artaxerxes concedeu plenos poderes a Esdras para liderar uma nova caravana a Jerusalém.
A carta real autorizava que qualquer israelita, sacerdote ou levita, pudesse acompanhá-lo (Esdras 7:13).
Esdras também recebeu grandes quantias de prata e ouro para serem usadas na manutenção do Templo.
Além das doações, o rei autorizou que todos os utensílios restantes fossem levados a Jerusalém, e que qualquer necessidade fosse suprida pelos tesoureiros da região (Esdras 7:20-22). Também foi decretada a isenção de impostos para os que serviam no Templo.
O ponto culminante do decreto foi o reconhecimento de Esdras como autoridade política e espiritual.
Ele podia nomear juízes e magistrados, e aplicar sanções a quem não obedecesse à Lei de Deus (Esdras 7:25-26). Em resposta, Esdras louva a Deus por mover o coração do rei em favor de Israel.
Conclusão
Os capítulos 5, 6 e 7 de Esdras oferecem uma narrativa riquíssima sobre restauração, liderança espiritual e intervenção divina.
A reativação da reconstrução do Templo, liderada por Zorobabel e inspirada pelos profetas, mostra que a Palavra de Deus é o motor de toda verdadeira transformação.
A confirmação do decreto de Ciro por Dario e o apoio logístico fornecido por ele reafirmam a soberania divina sobre os reinos da terra. Deus usa quem quer, inclusive reis estrangeiros, para cumprir Seus propósitos.
Por fim, a chegada de Esdras representa a culminação do processo de restauração: do templo à Lei, da estrutura à espiritualidade.
Ele é um modelo de homem de Deus comprometido com a Palavra, e seu exemplo permanece inspirador para todos que desejam liderar com fidelidade ao Senhor.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.