Os capítulos 35 e 36 de 2º Crônicas encerram esse importante livro histórico da Bíblia com eventos de extrema relevância para o povo de Judá.
Esses capítulos abordam desde a última grande celebração da Páscoa sob o reinado de Josias até a destruição de Jerusalém e o cativeiro na Babilônia. São narrativas que unem adoração, desobediência, juízo e esperança profética.
A celebração da Páscoa por Josias destaca-se como uma das mais fiéis e significativas, cumprindo fielmente os preceitos mosaicos e promovendo a unidade espiritual em Judá.
Por outro lado, os eventos subsequentes demonstram a decadência espiritual da nação, com reis que “fizeram o que era mau perante o SENHOR”, culminando no exílio.
Estes dois capítulos representam uma transição crítica: do arrependimento à resistência, da benção à disciplina divina.
A grandiosa celebração da Páscoa por Josias – 2º Crônicas 35
O capítulo 35 inicia com a decisão do rei Josias de celebrar a Páscoa conforme as prescrições mosaicas.
Ele instrui os sacerdotes e levitas a se organizarem e se consagrarem, reinstala a arca da aliança no templo e promove a participação de todo o povo.
A oferta de trinta mil cordeiros e três mil bois demonstra sua dedicação e a dimensão da celebração (2Cr 35:7).
A atenção aos detalhes rituais revela um compromisso com a santidade e a tradição.
A organização dos turnos sacerdotais, a distribuição dos sacrifícios e a dedicação dos levitas formam um retrato de adoração coletiva.
Os cantores e porteiros também têm funções fundamentais, conforme o mandado de Davi e seus sucessores (2Cr 35:15).
Este evento é considerado único em fidelidade e fervor espiritual. “Nunca, pois, se celebrou tal Páscoa em Israel, desde os dias do profeta Samuel” (2Cr 35:18).
É o clímax espiritual do reinado de Josias, que uniu o povo sob a aliança com Deus, reforçando a importância da obediência à Lei.
A morte trágica do Rei Josias
A narrativa sofre uma brusca mudança quando Josias decide enfrentar o faraó Neco, que marchava rumo a Carquemis (2Cr 35:20).
Ignorando a advertência do egípcio, que afirmava estar agindo por ordem de Deus, Josias se disfarça e parte para a batalha. A escolha de não consultar ao SENHOR foi um erro fatal.
Durante a batalha no vale de Megido, Josias é gravemente ferido por flecheiros e levado de volta a Jerusalém, onde morre (2Cr 35:24).
O povo lamenta profundamente sua perda, e o profeta Jeremias escreve uma lamentação especial, demonstrando o impacto espiritual da morte do rei justo.
A morte de Josias marca o fim de uma era de avivamento e o início da decadência nacional.
Apesar de sua morte trágica, ele é lembrado como um rei que conheceu a Deus de todo o coração (2Rs 23:25), estabelecendo um exemplo para futuras gerações.
A sucessão dos reis e a decadência espiritual – 2º Crônicas 36
Com a morte de Josias, seu filho Jeoacaz é feito rei, mas reina apenas três meses antes de ser deposto pelo rei do Egito (2Cr 36:2-3).
Seu curto reinado reflete a instabilidade política que se seguiu à perda de um líder piedoso.
Em seu lugar, Eliaquim, renomeado Jeoaquim, assume o trono por onze anos. Ele é descrito como um rei que “fez o que era mau perante o SENHOR” (2Cr 36:5).
Nabucodonosor, rei da Babilônia, invade Judá, leva parte dos utensílios do templo e subjuga Jeoaquim.
Joaquim, filho de Jeoaquim, sucede por um breve período de três meses e dez dias. Também agiu perversamente e foi levado para a Babilônia (2Cr 36:9-10). Esses reinados sucessivos marcam um declínio espiritual rápido e irreversível.
O reinado rebelde de Zedequias – 2º Crônicas 36
Zedequias, irmão de Joaquim, foi colocado no trono pelos babilônios, mas se mostrou igualmente rebelde.
Não se humilhou diante do profeta Jeremias nem manteve o juramento feito a Nabucodonosor (2Cr 36:12-13). Seu governo é marcado por obstinação e idolatria.
Sob sua liderança, os chefes dos sacerdotes e o povo aumentaram suas transgressões, contaminando o templo do SENHOR com abominações.
Apesar das advertências dos profetas, eles zombaram das mensagens divinas, provocando a ira do SENHOR (2Cr 36:16).
A rebelião de Zedequias resultou em cerco, invasão e destruição. É o ápice da desobediência nacional e o ponto final da monarquia davídica antes do exílio babilônico.
A destruição de Jerusalém e o exílio na Babilônia – 2º Crônicas 36
Como juízo final, o SENHOR permitiu que o rei dos caldeus destruísse Jerusalém.
Jovens foram mortos, o templo foi queimado, os tesouros saqueados e os muros da cidade derrubados (2Cr 36:17-19). A destruição foi completa e devastadora.
Os que escaparam da espada foram levados como escravos para a Babilônia, onde permaneceram por setenta anos, conforme profetizado por Jeremias (2Cr 36:21).
Durante esse período, a terra finalmente gozou dos sábados que o povo se recusou a guardar.
Este evento não foi apenas um desastre político, mas também um sinal claro da justiça divina.
A infidelidade e a desobediência têm consequências graves, mas mesmo nesse contexto, Deus manteve viva a esperança de restauração.
O decreto de Ciro e a esperança da restauração
O livro termina com um raio de esperança: o decreto de Ciro, rei da Pérsia (2Cr 36:22-23). Inspirado por Deus, Ciro autoriza o retorno dos judeus para reconstruir o templo em Jerusalém, encerrando o cativeiro.
Esse decreto marca o cumprimento da promessa de Jeremias e demonstra que, apesar do juízo, Deus não abandona Seu povo. Ele levanta líderes mesmo entre as nações pagãs para cumprir Seus propósitos.
O encerramento do livro de Crônicas com essa nota positiva é significativo. Aponta para a fidelidade de Deus à Sua aliança e ao futuro messiânico, que continua a se desenvolver nos livros seguintes.
Conclusão
Os capítulos 35 e 36 de 2º Crônicas são fundamentais para compreendermos a transição de Judá de um período de avivamento espiritual para o exílio e juízo.
A fidelidade de Josias contrasta com a rebelião dos reis subsequentes, demonstrando a importância da obediência à palavra de Deus.
O fim trágico de Jerusalém e o cativeiro não representam a derrota final, mas a disciplina divina com propósitos redentores. Deus preserva um remanescente fiel e prepara o caminho para a restauração.
Este artigo nos lembra que o juízo de Deus é real, mas também é a Sua misericórdia.
A história de Josias, os reis de Judá e o decreto de Ciro apontam para um Deus soberano, justo e cheio de graça.
Que aprendamos com essas lições e busquemos obedecer ao Senhor com inteireza de coração.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo:Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.