O livro de Ester é um dos escritos históricos do Antigo Testamento que revela de maneira profunda a soberania de Deus e Sua providência, mesmo quando não é mencionado diretamente.
A narrativa é ambientada no Império Persa, especificamente na cidadela de Susã, sob o reinado de Assuero, identificado historicamente como Xerxes I.
Os cinco primeiros capítulos nos apresentam os eventos iniciais que culminam na elevação de Ester ao trono, a intriga contra os judeus e os primeiros passos para a intervenção divina.
Esses capítulos são repletos de eventos significativos, como a destituição da rainha Vasti, a eleição de Ester como nova rainha, a ascensão de Hamã e seu plano maligno, além da decisiva intervenção de Mordecai e Ester.
Cada um desses eventos mostra como Deus pode usar circunstâncias aparentemente comuns para cumprir Seus propósitos maiores, mesmo em um contexto secular e hostil ao Seu povo.
Este artigo visa apresentar um resumo explicativo, detalhado e fiel dos capítulos 1 a 5 de Ester.
Utilizaremos uma estrutura clara com seis tópicos e uma conclusão, destacando os principais pontos e suas aplicações espirituais.
O banquete de Assuero e a rejeição de Vasti
O livro se inicia apresentando o rei Assuero, que reinava sobre 127 províncias, desde a Índia até a Etópia (Ester 1:1).
No terceiro ano de seu reinado, ele oferece um banquete que durou 180 dias, para exibir a glória e riqueza de seu império.
Este evento demonstra o luxo e o poder do império persa, mas também revela o orgulho do rei.
Ao final da celebração, Assuero oferece outro banquete de sete dias ao povo de Susã.
Nessa ocasião, sob o efeito do vinho, ele ordena que a rainha Vasti se apresente para mostrar sua beleza aos convidados (Ester 1:10-11).
Vasti recusa o pedido, possivelmente por considerá-lo indecoroso, o que causa grande ira ao rei.
O conselho dos príncipes do rei leva à decisão de depor Vasti, para evitar que outras mulheres sigam seu exemplo (Ester 1:16-20).
Essa ação desencadeia os eventos que permitirão a entrada de Ester no palácio. Aqui vemos como uma decisão aparentemente pessoal teve grandes repercussões no plano divino.
A escolha de Ester como rainha
Com a partida de Vasti, os conselheiros do rei sugerem que se busque em todas as províncias jovens virgens para o rei escolher uma nova rainha (Ester 2:2-4).
Entre as selecionadas está Ester, uma jovem judia, criada por seu primo Mordecai após a morte de seus pais (Ester 2:7).
Ester, cujo nome hebraico era Hadassa, encontra favor aos olhos de Hegai, o eunuco encarregado do harém, recebendo tratamentos especiais e os melhores aposentos (Ester 2:9).
Importante destacar que, por ordem de Mordecai, ela não revela sua origem judaica (Ester 2:10).
Após um ano de preparação, Ester é levada ao rei, que a ama mais do que a todas as outras mulheres, coroando-a como rainha em lugar de Vasti (Ester 2:17).
A soberania divina começa a se manifestar, colocando Ester em posição de influência em um momento crítico para o povo judeu.
A conspiração contra o rei e o heroísmo de Mordecai
Durante seu tempo no palácio, Mordecai descobre um complô de dois eunucos que planejavam assassinar o rei Assuero (Ester 2:21-23).
Ele informa Ester, que transmite a notícia ao rei em nome de Mordecai, permitindo que a conspiração seja frustrada.
Os conspiradores são enforcados e o fato é registrado no livro das crônicas do rei.
Este evento, aparentemente isolado, mais tarde será crucial para a reviravolta na história, mostrando como Deus orquestra eventos em favor de Seu povo.
Mordecai não recebe nenhuma recompensa imediata, o que é incomum, mas essa omissão também faz parte do plano soberano de Deus.
A fidelidade de Mordecai se torna um ponto-chave na narrativa, refletindo coragem e lealdade.
A ascensão de Hamã e o decreto de extermínio
No capítulo 3, Hamã, um agagita, é promovido pelo rei a uma posição de alta autoridade (Ester 3:1).
Todos os servos do rei se prostravam diante dele, exceto Mordecai, que se recusa a curvar-se, provocando a ira de Hamã (Ester 3:2-5).
Hamã, ao descobrir que Mordecai é judeu, decide exterminar não apenas ele, mas todo o povo judeu espalhado pelo império (Ester 3:6).
Ele convence o rei Assuero de que os judeus são uma ameaça à unidade do império e propõe sua destruição, oferecendo grande soma de prata para os tesouros reais (Ester 3:8-9).
O rei entrega o anel real a Hamã, autorizando-o a agir como quiser, e o decreto é expedido para todas as províncias, estabelecendo a data para a aniquilação dos judeus (Ester 3:12-14).
A cidade de Susã fica perplexa com a decisão, enquanto Hamã e o rei se assentam para beber, alheios à tragédia iminente.
O Lamento de Mordecai e a Decisão de Ester
Ao tomar conhecimento do decreto, Mordecai rasga suas vestes, veste-se de pano de saco e cinza, e clama pela cidade (Ester 4:1).
Esse lamento é repetido por todos os judeus nas províncias, que jejuam, choram e se lamentam profundamente (Ester 4:3).
Ester, informada da aflição de Mordecai, tenta confortá-lo, mas ele recusa a ajuda.
Então, por meio de Hataque, Mordecai revela a Ester o plano de Hamã e solicita que ela interceda junto ao rei (Ester 4:7-8).
Ester hesita inicialmente, temendo pela sua vida, pois entrar na presença do rei sem ser chamada era punível com a morte (Ester 4:11).
Contudo, Mordecai responde com uma das declarações mais marcantes do livro: “Quem sabe se para conjunturas como esta é que foste elevada a rainha?” (Ester 4:14).
Com isso, Ester decide arriscar sua vida e solicita um jejum de três dias entre os judeus. Ela demonstra coragem e fé, afirmando: “se perecer, pereci” (Ester 4:16).
Ester se apresenta ao rei e planeja sua intervenção
No terceiro dia, Ester se veste com trajes reais e se apresenta diante do rei, que estende o cetro de ouro, sinal de aceitação (Ester 5:1-2).
Ester o convida, juntamente com Hamã, para um banquete que ela preparou (Ester 5:4).
Durante o banquete, o rei pergunta a Ester qual é o seu pedido, prometendo atender até a metade do reino.
Ester, porém, adia sua petição e convida-os para um segundo banquete no dia seguinte (Ester 5:7-8).
Essa estratégia gera suspense e prepara o cenário para a revelação do plano de Hamã.
Hamã sai do banquete cheio de orgulho, mas ao ver Mordecai novamente sem se curvar, enche-se de furor (Ester 5:9).
Em casa, aconselhado por sua esposa Zeres, manda construir uma forca para enforcar Mordecai (Ester 5:14). Mal sabe ele que a reviravolta divina está prestes a ocorrer.
Conclusão
Os primeiros cinco capítulos do livro de Ester revelam uma teia de eventos que, embora pareçam naturais ou casuais, estão claramente sob a direção da providência divina.
O banimento de Vasti, a elevação de Ester, a descoberta da conspiração e o decreto de morte contra os judeus, tudo se entrelaça para mostrar que Deus está no controle.
Ester e Mordecai são exemplos de coragem, fé e fidelidade. Eles demonstram ser possível manter-se firme mesmo diante da ameaça de morte. O jejum e a oração aparecem como armas espirituais decisivas nessa batalha.
Este trecho inicial prepara o leitor para a reviravolta que se seguirá nos próximos capítulos.
Ester é um livro que, embora não mencione diretamente o nome de Deus, testifica poderosamente sobre Sua presença ativa na história do Seu povo.
Cada detalhe do texto nos conduz a confiar mais plenamente na soberania e no cuidado de Deus em todas as circunstâncias.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo:Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.