Os Salmos 112 a 118 formam uma sequência poética e teológica de grande riqueza espiritual, conhecida na tradição judaica como “Halel”, que significa “Louvor”.
Estes salmos eram tradicionalmente recitados nas festas judaicas, especialmente na Páscoa, celebrando a libertação, a fidelidade divina e o reino messiânico.
Cada salmo traz um aspecto único do relacionamento entre Deus e Seu povo, exaltando a justiça, a misericórdia, a redenção e a esperança futura.
Ao analisarmos estes capítulos com atenção, descobrimos profundas lições para a vida cristã prática, bem como perspectivas proféticas sobre o Messias.
A estrutura literária, repleta de paralelismos, acrósticos e antíteses, reforça o conteúdo espiritual e faz desses salmos verdadeiras joias da adoração bíblica.
Salmos 112 a 118, portanto, não apenas inspiram a fé, mas também educam o coração piedoso e fortalecem a confiança em Deus.
Neste artigo, abordaremos com profundidade cada um desses capítulos, destacando suas mensagens centrais e aplicações práticas.
Utilizaremos a Bíblia Sagrada e os comentários bíblicos, garantindo uma análise sólida, fiel ao texto e ao contexto histórico e teológico das Escrituras. Prepare-se para mergulhar em uma jornada de louvor, revelação e adoração.
O Justo que reflete a Glória de Deus – Salmo 112
O Salmo 112 é um acróstico que exalta as bênçãos sobre aquele que teme ao Senhor e guarda seus mandamentos.
Esse homem justo é apresentado como um reflexo da luz de Deus, semelhante à lua que reflete o brilho do sol. Seu temor a Deus é evidenciado por sua retidão, generosidade e firmeza mesmo diante de más notícias (Sl 112:7).
O texto descreve um homem cuja descendência será poderosa na terra (v.2), cuja casa é marcada por prosperidade e justiça (v.3), e que, mesmo nas trevas, brilha com luz (v.4).
Essa figura é contrastada com o perverso que, ao observar as bênçãos do justo, sente inveja e se consome de raiva (v.10). A firmeza espiritual do justo vem de sua confiança no Senhor.
Além disso, o salmo ressalta a importância da generosidade (v.5,9) como expressão da justiça. O apóstolo Paulo, em 2ª Coríntios 9:9, cita este salmo para ensinar sobre a generosidade cristã.
O justo vive sem temor, porque seu coração está ancorado na fidelidade de Deus. Sua vida é um testemunho duradouro da benevolência divina.
A grandeza e a proximidade de Deus – Salmo 113
O Salmo 113 celebra o Senhor como o Deus exaltado acima das nações, mas também como o Deus que se inclina para cuidar do necessitado.
Essa união entre transcendência e imanência é um dos temas mais tocantes deste salmo (Sl 113:5-6). Ele começa com um chamado universal ao louvor (v.1-3), destacando que o nome do Senhor deve ser bendito em todo tempo e lugar.
A seguir, o salmista descreve Deus como o que “se assenta nas alturas” e “se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra” (v.6).
Esta é uma imagem poderosa da soberania de Deus, mas também de sua compaixão ativa. Deus não está distante de nossa realidade; pelo contrário, Ele ergue o pobre do pó e o necessitado do monturo (v.7).
Finalmente, o salmo mostra que Deus também transforma a esterilidade em fecundidade (v.9), sinal de bênção na cultura israelita.
Este é um testemunho claro de que o Senhor transforma vidas. O salmo termina como começou: com um vibrante “Aleluia!”, reforçando que toda glória pertence ao Deus de amor e justiça.
O poder de Deus na história – Salmo 114
O Salmo 114 remonta ao êxodo do Egito e à travessia do Jordão, destacando o poder de Deus sobre a natureza e sua intervenção direta na história de Israel.
O salmista retrata esses eventos como manifestações da presença divina: o mar fugiu e o Jordão tornou atrás (Sl 114:3), os montes saltaram diante do Senhor (v.4).
Essa linguagem poética mostra que a criação inteira responde à presença do Criador.
Deus não apenas libertou Israel da escravidão, mas também estabeleceu um novo padrão de realidade espiritual: onde Ele está, há transformação.
Judá torna-se seu santuário (v.2), o lugar onde Deus habita, assim como o coração do crente é hoje morada do Espírito Santo.
No final do salmo, o autor convida toda a terra a estremecer na presença do Senhor (v.7), reforçando que o Deus que fez jorrar água da rocha (v.8) ainda hoje realiza milagres em favor do seu povo.
Esta é uma poderosa lembrança de que Deus não está ausente: Ele continua a agir com poder.
Somente a Deus a glória – Salmo 115
O Salmo 115 começa com a famosa declaração: “Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória” (Sl 115:1).
Esse salmo contrapõe a glória de Deus à vaidade dos ídolos, destacando que só o Senhor é digno de confiança.
Os ídolos, feitos por mãos humanas, não têm vida nem poder (v.4-7), e seus adoradores tornam-se semelhantes a eles (v.8).
Essa crítica contundente à idolatria enfatiza um princípio fundamental da fé bíblica: o homem é transformado conforme o objeto da sua adoração.
Israel, os sacerdotes e todos os que temem ao Senhor são conclamados a confiar nEle (v.9-11). A resposta é a promessa de bênçãos espirituais e materiais (v.12-15).
O salmo conclui com uma afirmação poderosa: “Nós, porém, bendiremos o SENHOR, desde agora e para sempre” (v.18).
O povo que foi restaurado após o exílio reconhece que a vida e a adoração pertencem a Deus. A ênfase é que, enquanto vivermos, devemos louvar Aquele que vive e reina eternamente.
Gratidão pelo livramento – Salmo 116
O Salmo 116 é uma expressão pessoal de gratidão por um livramento da morte. O salmista começa com uma simples e poderosa declaração: “Amo o SENHOR, porque ele ouve a minha voz” (Sl 116:1).
Essa confissão íntima é fundamentada na experiência de oração respondida, mesmo em meio ao sofrimento e à angústia.
O salmista descreve como clamou ao Senhor quando estava à beira da morte (v.3-4) e recebeu misericórdia e salvação (v.5-6).
Isso o leva a renovar sua confiança e descanso na fidelidade divina (v.7-9). Ele reconhece que a resposta de Deus não apenas o salvou fisicamente, mas restaurou sua alma e propósito.
Nos versos finais (v.12-19), o salmista pergunta: “Que darei ao SENHOR por todos os seus benefícios?” A resposta é um voto público de adoração, incluindo ações de graças, cumprimento de votos e louvor comunitário.
A frase “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos” (v.15) reforça o valor que Deus dá à vida e à fidelidade dos seus servos.
Um convite universal ao louvor-Salmo 117
O Salmo 117 é o menor capítulo da Bíblia, com apenas dois versículos, mas carrega uma mensagem de alcance global.
Ele convoca “todos os povos” e “todas as nações” a louvarem o Senhor (Sl 117:1). Isso antecipa o plano redentor de Deus para todos os povos, algo que o Novo Testamento confirma (Rm 15:11).
A base para esse louvor universal é dupla: a misericórdia do Senhor, que é “muito grande para conosco”, e sua fidelidade, que “subsiste para sempre” (v.2).
O salmista celebra não apenas os feitos de Deus por Israel, mas o caráter eterno e imutável de Deus. A fidelidade divina é motivo suficiente para louvarmos, independentemente das circunstâncias.
Essa universalidade do Salmo 117 o torna uma ponte entre a antiga aliança e a nova, entre o Israel nacional e a igreja global.
Ao exaltar o amor e a verdade de Deus, o salmo aponta para Cristo como a expressão máxima dessas qualidades. “Aleluia!” encerra o salmo, lembrando que o louvor é a resposta apropriada à grandeza de Deus.
A Pedra Rejeitada tornou-se Principal – Salmo 118
O Salmo 118 é um salmo de ação de graças e vitória. Nele, Israel celebra a salvação e a fidelidade de Deus, especialmente após um período de grande tribulação.
O refrão “porque a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 118:1) é repetido por toda a congregação, incluindo Israel, os sacerdotes e os tementes ao Senhor (v.2-4).
O salmista narra como foi cercado por inimigos (v.10-12), mas confiou no Senhor e foi libertado (v.13-14).
Deus tornou-se sua força e salvação. O clímax do salmo é a declaração profética: “A Pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal Pedra Angular” (v.22).
Esta é uma referência direta ao Messias, rejeitado pelos líderes de Israel, mas exaltado por Deus.
O salmo encerra com a entrada triunfal no templo (v.26-29), apontando para a segunda vinda de Cristo e o reconhecimento de sua messianidade por Israel.
É um salmo messiânico por excelência, que aponta para a obra redentora de Jesus e a vitória final de Deus sobre o mal.
Conclusão
Os Salmos 112 a 118 compõem uma unidade de louvor, fé e esperança. Eles exaltam as virtudes do justo, a glória de Deus, o poder divino na história, a exclusividade da adoração a Deus, a resposta grata à salvação, a universalidade do louvor e o triunfo do Messias.
Cada salmo oferece uma perspectiva única sobre o relacionamento entre Deus e seu povo.
Como leitores e crentes, somos convidados não apenas a compreender essas mensagens, mas a aplicá-las em nossa vida devocional.
O temor ao Senhor, a confiança em sua fidelidade e a celebração de sua salvação devem moldar nosso caráter e nossa adoração.
Que a leitura e meditação desses salmos fortaleçam sua fé, encham seu coração de louvor e ampliem sua visão do propósito redentor de Deus.
Que, como o salmista, possamos declarar: “Tu és o meu Deus, quero exaltar-te” (Sl 118:28). Aleluia!
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo:Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.