A celebração que comemora a última ceia de Jesus com seus discípulos antes de sua crucificação é praticada ainda hoje no Cristianismo.
Essa cerimônia tem gerado debates entre os teólogos sobre sua terminologia. Mas por que alguns acreditam que não devemos nos referir a este evento como “Santa Ceia”?
Neste artigo, exploraremos as razões bíblicas e teológicas por trás dessa discussão.
Significado do termo Ceia no grego
A palavra “ceia” em português é traduzida do termo grego “δεῖπνον” (deipnon) no contexto da Última Ceia ou Ceia do Senhor.
Em seu significado básico, “deipnon” refere-se à principal refeição do dia, que era geralmente consumida à noite.
No entanto, expressão “ceia do Senhor” é uma tradução de “κυριακὸν δεῖπνον” (pronuncia-se “kyriakon deipnon”), que literalmente significa “ceia [pertencente ao] Senhor”.
A origem da Ceia do Senhor
A raiz dessa cerimônia pode ser rastreada até a Páscoa Judaica, ou Pesach, é descrita detalhadamente no livro de Êxodo, particularmente no capítulo 12.
A Páscoa, é uma festa judaica de celebração, que comemorava a libertação milagrosa do povo de Israel do cativeiro egípcio.
O Antigo Testamento, embora não mencione diretamente a Ceia do Senhor conforme entendida no Novo Testamento, fornece a fundação e o pano de fundo para essa celebração essencial do Cristianismo.
O uso da palavra “santa”
A palavra “santa” é frequentemente usada em contextos religiosos e carrega consigo uma série de conotações e significados. No entanto, quando se refere à Ceia no Cristianismo, a ênfase excessiva na “santidade” do rito pode desviar a atenção do que é central nesta cerimônia.
Certamente, a Ceia é um momento sagrado, uma vez que representa o sacrifício redentor de Jesus Cristo. As Escrituras nos lembram da importância de não idolatrar rituais ou práticas.
Portanto, ao colocar um foco excessivo na palavra “santa” em relação à Ceia, podemos inadvertidamente obscurecer seu propósito fundamental: recordar o amor e o sacrifício de Cristo e aguardar com esperança sua segunda vinda.
Como está na Bíblia?
Na Bíblia, especificamente no Novo Testamento, o termo específico “Santa Ceia” não é utilizado nos textos originais da Bíblia.
Em 1 Coríntios 11:20, o apóstolo Paulo refere-se a esta celebração como a “Ceia do Senhor” “De modo que, quando vos ajuntais nesse lugar, não é para comer a ceia do Senhor.” — (ARA)
Portanto, biblicamente falando, a expressão mais apropriada e utilizada é “Ceia do Senhor”. O termo “Santa Ceia” é uma construção tradicional e cultural que se desenvolveu ao longo do tempo.
Celebração no cristianismo
A instituição da Ceia do Senhor é descrita nos Evangelhos: em Mateus 26:26-29, Marcos 14:22-25 e Lucas 22:14-20. Nestes relatos, Jesus, na última noite antes de sua crucificação, partilha o pão e o vinho com seus discípulos, simbolizando seu corpo e sangue.
A principal ênfase da Ceia do Senhor no novo testamento é a obra redentora de Jesus e a expectativa de sua segunda vinda.
Em 1 Coríntios 11:26, está escrito: “Porque, todas às vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.”
Conclusão
Ao mergulhar nas Escrituras, notamos que a ênfase recai sobre a “Ceia do Senhor” e não especificamente sobre o termo “Santa Ceia”.
Esta nomenclatura, oriunda de tradições e interpretações ao longo dos anos, pode ter ganho um destaque que pode obscurecer o foco central da celebração: a comemoração do sacrifício de Jesus e a esperança da Sua segunda vinda.
É essencial, portanto, ancorar nossas práticas e discursos na Palavra de Deus, garantindo que mantenhamos a integridade e a clareza de nossa fé.
Dúvidas frequentas
1. Por que “Santa Ceia” é uma expressão controversa?
A terminologia “Santa Ceia” não é encontrada nos textos originais da Bíblia. A ênfase bíblica está na “Ceia do Senhor”. A expressão “Santa Ceia” é produto de tradições e interpretações ao longo do tempo.
2. Qual é o significado do termo “ceia” no contexto bíblico?
“Ceia” é traduzido do termo grego “δεῖπνον” (deipnon) e refere-se à principal refeição do dia, normalmente consumida à noite. No contexto cristão, ele também carrega conotações de comunhão, memória e celebração do sacrifício e ressurreição de Jesus.
3. Qual é a relação da Ceia do Senhor com a Páscoa Judaica?
A origem da Ceia do Senhor pode ser rastreada até a Páscoa Judaica, que comemora a libertação dos israelitas da escravidão no Egito. Esta festa judaica serve como fundação e pano de fundo para a celebração da Ceia do Senhor no Cristianismo.
4. Por que a ênfase na palavra “santa” pode ser problemática?
Embora a cerimônia seja de natureza sagrada, a ênfase excessiva na “santidade” pode desviar a atenção do propósito central da celebração: recordar o amor e o sacrifício de Cristo e aguardar Sua segunda vinda.
5. Onde na Bíblia podemos encontrar referências à Ceia do Senhor?
Referências explícitas à Ceia do Senhor podem ser encontradas nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, bem como em 1 Coríntios, onde o apóstolo Paulo descreve sua significância e prática.
6. Por que é importante considerar como nos referimos à Ceia?
A linguagem molda nossa compreensão e prática. Ao ancorarmos nossos discursos na Palavra de Deus, garantimos uma compreensão fiel e clara do significado e propósito da celebração.
7. É necessário compreender o Antigo Testamento para apreciar plenamente a Ceia do Senhor?
Embora seja possível apreciar a Ceia do Senhor sem um conhecimento profundo do Antigo Testamento, entender as raízes e as conexões enriquece a experiência e oferece uma perspectiva mais completa sobre o plano redentor de Deus ao longo da história.
8. Por que a expressão “Santa Ceia” se tornou tão popular se não está na Bíblia?
A designação “Santa Ceia” é fruto de tradições e culturas eclesiásticas que se desenvolveram ao longo do tempo. Ela reflete a reverência que muitos cristãos têm pela cerimônia, mesmo que a terminologia bíblica seja “Ceia do Senhor”.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
CARVALHO, Manoel. Ceia do Senhor: Significado, Celebração e Prática. São Paulo: Editora Vida Nova, 2019.