A Bíblia Cristã, em seu Novo Testamento, apresenta quatro livros singulares conhecidos como os evangelhos.
Estes textos, Mateus, Marcos, Lucas e João são centrais para a fé cristã, narrando a vida, o ministério, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
Os evangelhos são diferentes em estilo e perspectiva, cada um oferecendo uma visão única sobre a figura de Jesus.
Eles são comumente divididos em dois grupos: os sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), devido às suas semelhanças em conteúdo e estrutura, e o quarto evangelho, que apresenta uma abordagem mais teológica e conceitual.
A compreensão destes textos é essencial para qualquer estudo sério sobre o cristianismo. Eles não são apenas registros históricos, mas também obras teológicas profundas, repletas de ensinamentos e significados.
Ao analisar cada evangelho em detalhe, podemos obter uma visão mais rica e diversificada da figura central do cristianismo: Jesus Cristo.
Significado do termo “evangelho”
O termo “evangelho” é derivado do grego “euangelion”, que significa “boa-nova” ou “boa-notícia”. Este conceito está profundamente enraizado no Judaísmo, onde a boa nova era frequentemente uma mensagem de libertação divina.
Em Mateus 4:23, é relatado que Jesus “percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda doença e enfermidade entre o povo”.
Este versículo destaca o caráter integral do evangelho, não se limitando a palavras, mas incluindo ações e milagres. O evangelho é, portanto, uma mensagem vívida e demonstrada, não apenas proclamada.
Em Marcos 1:15, Jesus declara: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”. Esta proclamação enfatiza a urgência e a relevância do evangelho para a vida dos cristãos.
Por que quatro evangelhos?
A existência de quatro evangelhos no cânon do Novo Testamento, traz questões importantes sobre a natureza da revelação e transmissão da história de Jesus.
Cada um desses textos, embora relatando os mesmos eventos fundamentais da vida de Cristo, oferece perspectivas e ênfases específicas, enriquecendo a compreensão teológica e histórica.
Mateus, por exemplo, enfatiza Jesus como o Messias prometido, cumprindo as profecias do Antigo Testamento, como evidenciado em Mateus 1:22-23, onde seu nascimento é descrito como o cumprimento da profecia de Isaías.
Marcos, por outro lado, apresenta Jesus como o servo sofredor, com uma narrativa rápida e um foco especial nos atos de Jesus.
Lucas, oferece um relato detalhado e ordenado (Lucas 1:3), destacando a universalidade da mensagem de Cristo e sua compaixão pelos marginalizados.
João, diferentemente dos sinóticos, oferece uma perspectiva mais teológica e contemplativa, focando na divindade de Jesus, como visto no prólogo de João 1:1-14.
Essa multiplicidade de perspectivas era necessária para abordar as diferentes comunidades e contextos para os quais cada evangelho foi escrito.
Os evangelhos sinóticos
Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como “sinóticos”, devido à sua visão semelhante (“syn”) e narrativa comum (“optikos”) sobre a vida de Jesus.
Eles reúnem uma abundância de material, estrutura narrativa e até linguagem idêntica em algumas passagens, buscando alguma forma de interdependência ou fonte comum.
Mateus e Lucas, por exemplo, parecem ter utilizado Marcos como uma de suas fontes, como evidenciado pelas semelhanças na sequência de eventos e na edição de muitas passagens.
Além disso, Mateus e Lucas contém material exclusivo, muitas vezes referido como “Q” (do alemão “Quelle”, que significa “fonte”), uma coleção possível escrita de ensinamentos de Jesus.
Esses três evangelhos focam nos eventos da vida pública de Jesus, seus milagres, parábolas e ensinamentos, culminando em sua paixão, morte e ressurreição.
Por que são chamados de evangelhos sinóticos
A denominação “sinóticos” para Mateus, Marcos e Lucas deve-se à sua abordagem narrativa semelhante e ao compartilhamento substancial de conteúdo.
Este termo indica que esses evangelhos podem ser “vistos juntos” (syn + optikos) devido à sua estrutura paralela e ao material comum.
Esta característica facilita a comparação e o estudo comparativo dos textos, revelando tanto suas semelhanças quanto seus examinados.
A existência de paralelismos entre os sinóticos sugere que eles podem ter se influenciado de forma alternativa ou recorrido a fontes comuns.
Por exemplo, a narrativa da alimentação dos cinco mil é encontrada em todos os três com detalhes notavelmente semelhantes (Mateus 14:13-21; Marcos 6:30-44; Lucas 9:10-17), apontando uma fonte comum ou tradição oral compartilhado.
Além disso, a natureza sinótica desses evangelhos oferece um entendimento mais profundo sobre como as primeiras comunidades cristãs interpretavam e transmitiam a história de Jesus.
Ao analisar as variações nos relatos, os estudiosos podem discernir os diferentes contextos teológicos e culturais nos quais cada evangelho foi escrito.
A importância dos evangelhos sinóticos
Os evangelhos sinóticos são fundamentais para a compreensão da vida e ministério de Jesus. Eles oferecem uma visão detalhada de seus ensinamentos, parábolas, milagres e, crucialmente, os eventos da Paixão.
Ao fornecerem narrativas múltiplas e complementares, enriquecendo o entendimento cristão de quem Jesus era e o que ele representava. A abordagem tripla também reforça a historicidade dos eventos descritos.
As semelhanças entre os relatos corroboram a veracidade das narrativas, enquanto as diferenças destacam a diversidade de perspectivas e ênfases teológicas entre as comunidades cristãs primitivas.
Essa diversidade permite uma compreensão mais abrangente e matizada de Jesus como figura histórica e teológica. Além disso, os sinóticos são essenciais para a prática da exegese bíblica.
Eles permitem que estudiosos e teólogos comparem e contrastem os relatos, explorando as nuances de cada evangelho. Isso enriquece a interpretação teológica e oferece revelações valiosas sobre o desenvolvimento do pensamento cristão primitivo.
Qual a importância do quarto evangelho?
O Evangelho de João ocupa um lugar especial no cânon do Novo Testamento, diferindo significativamente dos sinóticos em estilo e conteúdo.
Enquanto os sinóticos apresentam uma narrativa mais cronológica da vida de Jesus, João oferece uma perspectiva mais teológica e espiritual, enfatizando a revelação de Cristo.
João é notável por seus discursos extensos de Jesus e pelo uso frequente de simbolismos. Por exemplo, Jesus é apresentado como o “Pão da Vida” (João 6:35) e a “Luz do Mundo” (João 8:12), conceitos que profundamente enriquecem a compreensão cristã de sua natureza e missão.
Este evangelho também contém relatos exclusivos, como o da ressurreição de Lázaro (João 11) e diálogos detalhados, como o com Nicodemos (João 3).
A importância do quarto evangelho reside em sua capacidade de explorar aspectos da pessoa e da obra de Jesus que não são tão enfatizados nos Sinóticos.
A abordagem em Jesus como o Verbo encarnado (João 1:1-14) oferece uma visão profunda de sua preexistência e missão divina, contribuindo para o desenvolvimento do cristianismo.
Conclusão
Os evangelhos são mais do que meras biografias de Jesus; são narrativas teológicas que oferecem uma janela para o entendimento da pessoa e obra de Cristo.
Eles são fundamentais para a fé cristã, não apenas como registros históricos, mas como revelações do propósito divino e da redenção humana.
A multiplicidade dos evangelhos, com os sinóticos destacando a humanidade de Jesus e João enfatizando sua divindade, oferece uma visão rica de Jesus Cristo.
Finalmente, o estudo dos evangelhos é uma jornada contínua de descoberta e reflexão. Cada leitura e interpretação oferece novas percepções e compreensões, enriquecendo a fé e a prática cristã.
Eles permaneceram como fontes de inspiração, desafio e conforto para os cristãos ao redor do mundo, reafirmando a mensagem transformadora do evangelho de Jesus Cristo.
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