Os capítulos 27, 28 e 29 do livro de Números abordam temas fundamentais na organização da sociedade israelita, incluindo direitos de herança, a sucessão de Moisés e as ordenanças sobre ofertas e festas solenes.
Esses textos revelam tanto o compromisso de Deus com a justiça e a ordem quanto a necessidade de uma estrutura bem definida para a vida religiosa e civil do povo de Israel.
No capítulo 27, destaca-se o pedido das filhas de Zelofeade por direitos de herança, um marco na legislação mosaica ao permitir que mulheres herdassem propriedades na ausência de herdeiros masculinos.
Além disso, o capítulo narra a indicação de Josué como sucessor de Moisés, evidenciando a preocupação divina com a continuidade da liderança.
Os capítulos 28 e 29 detalham as ofertas diárias, semanais, mensais e festivas, estabelecendo um padrão de adoração e sacrifícios.
Essas instruções reforçam a relação entre o povo e Deus, garantindo que a adoração fosse constante e conforme as exigências divinas.
Compreender esses capítulos é essencial para reconhecer a estrutura espiritual do Israel antigo.
O direito de herança das filhas de Zelofeade
As filhas de Zelofeade, pertencentes à tribo de Manassés, apresentaram-se diante de Moisés, Eleazar e toda a congregação para reivindicar a herança de seu pai, que faleceu sem deixar filhos homens (Nm 27:1-4).
Essa situação poderia resultar na perda do nome da família na divisão de territórios, algo significativo na cultura israelita.
Moisés levou a questão ao Senhor, que respondeu favoravelmente ao pedido das mulheres, determinando que filhas pudessem herdar os bens na ausência de filhos homens (Nm 27:5-8).
Essa decisão não apenas corrigiu uma desigualdade, mas também estabeleceu um precedente na legislação israelita.
Essa nova lei garantiu a manutenção das terras nas tribos e enfatizou a justiça divina na distribuição de posses.
Posteriormente, Números 36 trouxe regulações adicionais para que essas herdeiras se casassem na própria tribo, evitando a dispersão de territórios.
A predição da morte de Moisés e a sucessão de Josué
O Senhor ordenou que Moisés subisse ao monte Abarim para contemplar a Terra Prometida antes de sua morte (Nm 27:12-14).
Moisés não poderia entrar na terra por desobedecer a Deus em Meribá, quando feriu a rocha em vez de apenas falar com ela, como lhe fora ordenado.
Demonstrando grande preocupação com o futuro do povo, Moisés pediu a Deus um sucessor para liderar Israel (Nm 27:15-17).
O Senhor escolheu Josué, filho de Num, um homem cheio do Espírito de Deus, para continuar a liderança e guiar o povo na conquista de Canaã.
Josué foi apresentado diante de Eleazar, o sacerdote, e de toda a congregação, recebendo uma parte da autoridade de Moisés.
Esse evento simbolizou a continuidade do plano divino e a necessidade de uma liderança forte e fiel a Deus.
As ofertas diárias e semanais
O capítulo 28 estabelece que diariamente deveriam ser oferecidos dois cordeiros de um ano sem defeito, um pela manhã e outro ao entardecer (Nm 28:3-4).
Esses holocaustos eram acompanhados de uma oferta de manjares e de uma libação.
Aos sábados, além do holocausto diário, deveriam ser oferecidos mais dois cordeiros acompanhados das respectivas ofertas de manjares e libações (Nm 28:9-10).
Isso reforçava a santidade do dia de descanso e a necessidade de adoração contínua.
Esses sacrifícios diários e semanais mantinham a aliança entre Deus e Israel, lembrando ao povo a importância da consagração constante.
As ofertas mensais e nas festas solenes
Nos primeiros dias de cada mês, deveriam ser sacrificados dois novilhos, um carneiro e sete cordeiros, todos sem defeito, acompanhados de ofertas de manjares e libações (Nm 28:11-15). Essa prática reforçava o compromisso mensal com Deus.
Os capítulos também detalham os sacrifícios nas festas solenes, como a Páscoa, a Festa dos Pães Asmos, a Festa das Trombetas, o Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos (Nm 28:16-29:40).
Cada uma dessas celebrações tinha propósitos específicos no calendário judaico.
Esses eventos eram ocasiões de renovação espiritual e de memória coletiva da fidelidade de Deus ao longo da história de Israel.
O dia da expiação e a necessidade de purificação
O Dia da Expiação, celebrado no décimo dia do sétimo mês, era um momento crucial de arrependimento e purificação para Israel (Nm 29:7-11).
Nesse dia, os israelitas deveriam afligir suas almas e apresentar sacrifícios especiais para a expiação dos pecados da nação.
Esse evento enfatizava a necessidade de um coração contrito e de uma relação restaurada com Deus. O sacrifício realizado apontava para a redenção futura por meio de Cristo.
Conclusão
Os capítulos 27, 28 e 29 de Números destacam princípios fundamentais da justiça divina, da continuidade da liderança e da santidade na adoração.
A legislação sobre heranças garantiu equidade, enquanto a sucessão de Josué assegurou a liderança do povo.
Os sacrifícios e festas solenes reforçavam a necessidade de uma relação constante com Deus, lembrando Israel de sua identidade espiritual.
Esses princípios continuam relevantes para os cristãos, apontando para Cristo como o sacrifício definitivo.
Assim, esses capítulos revelam a soberania divina, o cuidado com Seu povo e a importância da obediência às Suas ordenanças.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.