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O humano como a imagem de Deus

O termo “imagem de Deus” é um dos mais profundos e significativos no âmbito da teologia cristã. Ele não apenas define a identidade humana, mas também molda a compreensão da relação entre Deus e a humanidade.

Desde o relato da criação no livro de Gênesis, onde se declara que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26-27), esse termo tem sido fundamental para o entendimento da dignidade humana, dos direitos inalienáveis e do propósito divino para a vida.

Compreender o que significa ser criado à imagem de Deus envolve mergulhar nas profundezas das Escrituras e explorar o propósito original de Deus para a humanidade.

Ao longo dos séculos, teólogos debatem o significado exato dessa expressão e como ela se aplica à vida humana em seu estado caído e redimido.

O termo imagem de Deus não é apenas um conceito abstrato, mas uma realidade viva que influencia a ética, a moralidade e a espiritualidade do ser humano.

Compreender esse termo é vital para entender não só quem somos, mas também quem Deus é e como Ele se relaciona conosco.

Neste artigo, exploraremos a temática imagem de Deus em seis tópicos principais, cada um desses temas será abordado à luz das Escrituras e da teologia cristã, proporcionando uma visão abrangente e detalhada dessa doutrina essencial.

Definição de Imago Dei

O termo “Imago Dei” é uma expressão latina que significa “imagem de Deus” e tem suas raízes no texto hebraico de Gênesis 1:26-27.

A palavra hebraica para “imagem” é “tselem” (צֶלֶם), que pode ser traduzida como uma representação ou semelhança de algo.

No contexto bíblico, “tselem” refere-se à representação do divino na criação, indicando que o ser humano foi criado como uma réplica, embora limitada, do Criador.

Esta noção de “tselem” carrega a ideia de que o ser humano reflete certos atributos de Deus, embora não na totalidade do que Deus é.

Além de “tselem”, o termo “demut” (דְּמוּת), traduzido como “semelhança”, também é usado em Gênesis 1:26.

Enquanto “tselem” sugere uma imagem mais concreta ou física, “demut” aponta para uma similaridade, algo que compartilha características comuns.

Essa distinção é significativa porque, embora o ser humano seja feito à imagem de Deus, ele não é divino, mas compartilha de certos atributos que refletem a natureza divina, como a racionalidade, moralidade, e capacidade de relacionar-se.

O uso desses termos em Gênesis destaca a dignidade intrínseca do ser humano e a sua vocação para representar Deus na terra.

Esta representação implica uma responsabilidade moral e ética, dado que o ser humano é chamado a viver de uma forma que espelhe o caráter de Deus no mundo.

Qual é a imagem de Deus?

A pergunta “Qual é a imagem de Deus?” é fundamental para compreender a Imago Dei.

Portanto, a imagem de Deus deve ser entendida em termos de atributos espirituais e morais que refletem a natureza divina.

Entre esses atributos, podemos destacar a racionalidade, a moralidade, a criatividade, a capacidade de amar e relacionar-se, bem como o livre-arbítrio.

A racionalidade, por exemplo, permite ao ser humano refletir sobre si e o mundo ao seu redor, buscar o conhecimento e compreender a verdade, algo que reflete a sabedoria divina.

A moralidade, por sua vez, é outro aspecto crucial, pois Deus é santo e justo, e Ele criou o ser humano com uma consciência moral, capaz de discernir entre o certo e o errado (Romanos 2:14-15). Esta capacidade de tomar decisões morais é um reflexo direto da justiça e santidade de Deus.

Ademais, a criatividade humana também é uma expressão da Imago Dei. Assim como Deus é o Criador do universo, o ser humano foi dotado com a habilidade de criar, inovar e transformar o mundo ao seu redor.

A capacidade de se relacionar, amar e viver em comunidade também é uma manifestação da imagem de Deus, pois Deus é, em Sua essência, um ser relacional, existindo eternamente como Pai, Filho e Espírito Santo em perfeita comunhão.

Portanto, a imagem de Deus é vista em como vivemos, pensamos, amamos e criamos, refletindo os atributos divinos.

O Significado de ser feito à imagem e semelhança de Deus

Ser feito à imagem e semelhança de Deus significa que os seres humanos possuem uma dignidade e valor intrínsecos, decorrentes de sua origem divina.

Esta dignidade não é apenas uma característica do ser humano em seu estado original, mas é algo que continua a ser uma realidade, mesmo após a queda.

Em Gênesis 9:6, após o dilúvio, Deus reafirma que o homem foi criado à Sua imagem, evidenciando que essa imagem não foi totalmente perdida, apesar do pecado.

A imagem e semelhança de Deus conferem ao ser humano uma posição única na criação, como representantes de Deus na terra.

Além disso, ser feito à imagem e semelhança de Deus implica em uma responsabilidade moral e espiritual. O ser humano foi criado para governar a criação como vice-regente de Deus (Gênesis 1:28).

Isso inclui cuidar do meio ambiente, promover a justiça e viver conforme os padrões divinos.

A capacidade de amar e relacionar-se com Deus e com o próximo é central para essa responsabilidade, refletindo o caráter relacional e amoroso de Deus.

Outro aspecto importante do conceito de Imago Dei é a vocação para a santidade. Efésios 4:24 nos exorta a nos revestirmos do “novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”.

A santidade não é apenas uma característica de Deus, mas também uma meta para os seres humanos, sendo chamados a refletir essa santidade em suas vidas diárias.

Portanto, ser feito à imagem e semelhança de Deus é um chamado para viver conforme Sua vontade e caráter, refletindo Sua glória em todas as esferas da vida.

Se Deus nos criou à sua imagem, podemos afirmar que Deus tem traços humanos?

A questão de se Deus possui traços humanos é complexa e requer uma distinção cuidadosa entre o que significa “imagem” e “semelhança”. Deus, como ser infinito e espiritual, não possui um corpo físico ou características humanas no sentido literal.

No entanto, as Escrituras frequentemente utilizam antropomorfismos – descrições de Deus em termos humanos – para nos ajudar a entender aspectos de Sua natureza.

Por exemplo, a Bíblia fala da “mão de Deus” (Isaías 59:1), “olhos de Deus” (Salmo 34:15), e outros traços, mas isso não significa que Deus possui um corpo humano, mas sim que essas expressões são formas de descrever Suas ações e atributos de maneira compreensível para nós.

Deus é espírito (João 4:24), e Sua essência não pode ser limitada a traços físicos.

A imagem de Deus no ser humano deve ser entendida principalmente em termos de atributos não físicos, como a moralidade, racionalidade, e capacidade relacional, que são reflexos da natureza divina.

Portanto, a Imago Dei não implica que Deus tenha uma forma humana, mas que os humanos, em sua natureza espiritual e moral, refletem aspectos do caráter de Deus.

Além disso, Jesus Cristo, o qual é a imagem perfeita de Deus (Colossenses 1:15), encarnou-se como ser humano, tornando-se Deus em carne.

Embora Jesus tenha assumido a natureza humana, Ele permanece plenamente Deus e plenamente homem.

Sua encarnação é o único caso em que Deus assumiu um corpo humano, mas isso foi um ato singular, destinado à obra redentora.

Portanto, embora a Bíblia utilize linguagem humana para descrever Deus, isso é feito para comunicar verdades espirituais de maneira acessível e não para sugerir que Deus possui características físicas humanas.

Deus nunca pecou. Por que o homem feito à Sua imagem cometeu pecado?

A Bíblia nos ensina que Deus criou o ser humano bom e sem pecado (Gênesis 1:31), mas com livre-arbítrio – a capacidade de escolher entre o bem e o mal.

O livre-arbítrio é um aspecto crucial da Imago Dei por refletir a liberdade divina, embora limitadamente.

Deus não criou o mal, nem Ele pode ser tentado pelo mal (Tiago 1:13). No entanto, o ser humano, usando de sua liberdade, escolheu desobedecer a Deus, trazendo o pecado e a morte ao mundo (Romanos 5:12).

A queda do ser humano, conforme descrita em Gênesis 3, não apagou completamente a imagem de Deus, mas a distorceu.

O pecado corrompeu a natureza humana, afetando a mente, o coração e a vontade, mas não destruiu a dignidade inerente de ser criado à imagem de Deus.

Mesmo após a queda, o ser humano ainda possui a capacidade de refletir, embora imperfeitamente, os atributos divinos, como a moralidade e a racionalidade. A doutrina da redenção, portanto, é central, pois Cristo veio restaurar e renovar a imagem de Deus em nós (Efésios 4:24).

A pergunta por que o homem peca, sendo criado à imagem de Deus, encontra sua resposta na tensão entre a liberdade humana e a soberania divina.

Deus, em Sua sabedoria, permitiu que o ser humano exercesse sua liberdade, mesmo sabendo que isso resultaria em pecado.

No entanto, a redenção em Cristo oferece a esperança de que a imagem de Deus será plenamente restaurada em nós, quando formos transformados à Sua semelhança em glória (2ª Coríntios 3:18).

Como os seres humanos refletem a glória de Deus?

Os seres humanos refletem a glória de Deus de várias maneiras, principalmente através de suas vidas e relacionamentos.

A glória de Deus é manifesta em nossa capacidade de amar, criar, pensar e agir de maneiras que espelham o caráter divino.

Quando vivemos conforme os princípios do Reino de Deus, mostramos ao mundo o caráter de Deus.

Em Mateus 5:16, Jesus nos instrui: “Assim, brilhe a vossa luz diante dos homens, para verem as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” Nossas ações justas, nossa bondade e nosso amor pelos outros são reflexos da glória de Deus.

Além disso, refletimos a glória de Deus em nosso relacionamento com Ele. A adoração é uma das formas mais profundas de refletir essa glória.

Quando adoramos a Deus em espírito e em verdade (João 4:24), reconhecemos Sua supremacia e expressamos nossa dependência dEle.

A adoração não é apenas um ato religioso, mas um estilo de vida que demonstra a prioridade de Deus em nossas vidas. Ao vivermos em comunhão com Deus, nos tornamos espelhos que refletem Sua glória ao mundo.

Por fim, a missão de Deus para a humanidade é outro meio pelo qual refletimos Sua glória. Quando cumprimos o mandamento de fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28:19-20), estamos participando do propósito redentor de Deus no mundo.

Cada ato de obediência ao chamado de Deus, cada palavra de esperança proclamada e cada gesto de amor e justiça praticado em nome de Cristo, é uma maneira de refletir a glória de Deus.

Portanto, a vida humana, quando vivida conforme a vontade de Deus, torna-se um testemunho vivo da Sua glória.

Conclusão

A doutrina da Imago Dei é uma das mais profundas e fundamentais na teologia cristã, oferecendo uma compreensão rica da identidade e do propósito do ser humano.

Ser criado à imagem e semelhança de Deus significa que os seres humanos têm uma dignidade intrínseca e uma vocação divina para refletir o caráter de Deus em suas vidas.

Embora o pecado tenha distorcido essa imagem, a redenção em Cristo oferece a esperança de uma plena restauração.

Além disso, a Imago Dei nos chama a uma responsabilidade moral e espiritual, a viver de maneira que espelhe a santidade, a justiça e o amor de Deus.

Isso inclui não apenas nossa relação com Deus, mas também como tratamos reciprocamente e cuidamos do mundo ao nosso redor.

Cada aspecto da vida humana, desde a criatividade até a moralidade, é uma oportunidade de refletir a glória de Deus.

Finalmente, a doutrina da Imago Dei nos lembra que, embora sejamos feitos à imagem de Deus, Ele é infinitamente maior e transcendente.

Nossa missão é viver de tal forma que outros possam ver essa imagem refletida em nós e serem atraídos para o Criador.

Assim, a Imago Dei não é apenas um conceito teológico, mas uma realidade viva que molda nossa existência e nos chama a um relacionamento profundo e transformador com Deus.

Referências bibliográficas

BERGSTEN, Eurico. Teologia sistemática. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

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