Os capítulos 44, 45 e 46 oferecem um panorama detalhado da fidelidade de Deus ao seu povo, da invalidade dos ídolos e da ação redentora através do instrumento escolhido: Ciro.
Esses textos são uma declaração inquestionável da exclusividade divina e de seu controle absoluto sobre a história.
No capítulo 44, o Senhor afirma sua identidade como o único Deus e denuncia a loucura da idolatria.
Isaías anuncia a vinda de uma restauração espiritual e material para Israel, através do derramar do Espírito e do perdão dos pecados.
A promessa da redenção está profundamente ligada à fidelidade divina, que nunca abandona aqueles a quem escolheu.
O capítulo 45 introduz Ciro como “ungido do Senhor”, destacando o poder soberano de Deus em utilizar até mesmo um rei estrangeiro para cumprir seus propósitos.
Já o capítulo 46 conclui essa série com uma forte crítica aos deuses babilônicos, contrastando a fragilidade dos ídolos com a eterna força e cuidado do Deus de Israel.
Esta série de capítulos forma uma narrativa teológica poderosa sobre redenção, soberania e fidelidade.
O único Deus verdadeiro (Isaías 44:1-8)
Isaías 44 inicia com uma reafirmação da identidade de Israel como povo escolhido por Deus. “Agora, pois, ouve, ó Jacó, servo meu, ó Israel, a quem escolhi” (v. 1).
Essa declaração estabelece o tom de intimidade e compromisso do Senhor com seu povo.
Deus se apresenta como o Criador, Ajudador e Redentor, e promete derramar Seu Espírito sobre a posteridade de Israel, trazendo vida e renovação.
A imagem da água sobre a terra seca simboliza o avivamento espiritual prometido.
Nos versículos seguintes (v. 3-5), o texto traz promessas de vitalidade espiritual e identidade restaurada. Os descendentes florescerão como salgueiros junto a ribeiros de água.
Este florescimento simboliza a bênção divina manifestada de maneira abundante sobre os filhos de Israel.
Além disso, há uma forte dimensão escatológica nessa promessa, antecipando o avivamento final na era messiânica.
Finalmente, nos versículos 6 a 8, Deus se declara como o único Deus verdadeiro: “Eu sou o primeiro e eu sou o último, e fora de mim não há Deus” (v. 6).
Essa confissão reafirma a singularidade e exclusividade divina, em contraste com os deuses pagãos.
Ele desafia qualquer outro suposto deus a declarar o futuro, algo que apenas o Senhor é capaz de fazer.
Israel é chamado a não temer, pois é testemunha viva do Deus que conhece e governa o futuro.
A loucura da idolatria (Isaías 44:9-20)
Isaías se volta para uma crítica mordaz à idolatria, ridicularizando o processo de criação de ídolos pelos homens.
Os versículos 9 a 11 destacam que os artífices de imagens de escultura são enganados por sua própria criação.
Eles são “nada” e as imagens que produzem são incapazes de ver ou entender. O profeta denuncia o absurdo de adorar algo feito pelas mãos humanas.
Em seguida, o texto (v. 12-17) descreve em detalhes o trabalho do ferreiro e do carpinteiro ao construir um ídolo.
A ironia é evidente: o mesmo homem que planta uma árvore a corta, usa parte da madeira para aquecer-se e cozinhar, e com o restante faz um deus ao qual se prostra.
Isaías expõe a irracionalidade dessa prática, demonstrando que tais deuses não possuem poder algum.
Por fim, os versículos 18 a 20 mostram que os idólatras estão cegos e enganados.
Seus corações foram iludidos, tornando-os incapazes de discernir a verdade. Alimentam-se de cinza, ou seja, estão nutridos por ilusões vazias.
Esse trecho é um poderoso chamado ao arrependimento e à rejeição de qualquer forma de idolatria, seja ela física ou espiritual.
A promessa de redenção (Isaías 44:21-28)
Deus agora volta-se a Israel com palavras de consolo e restauração. Nos versículos 21 a 23, Ele exorta o povo a se lembrar de que pertencem a Ele: “Lembra-te destas coisas, ó Jacó, ó Israel, porquanto és meu servo” (v. 21).
O Senhor reafirma que não se esquecerá de Israel e promete apagar as transgressões como névoa, chamando o povo ao arrependimento.
A redenção anunciada é motivo de celebração em toda a criação (v. 23). O regozijo universal reflete a magnitude da obra de Deus em restaurar Jacó e glorificar-se em Israel.
É um momento de grande esperança, em que a graça triunfa sobre o juízo e a reconciliação é plenamente oferecida.
No fechamento do capítulo (v. 24-28), Deus se apresenta como o Criador soberano, o Redentor que frustrará os planos dos falsos profetas e confirmará a palavra dos seus servos.
Ele anuncia a futura restauração de Jerusalém e introduz, de forma profética, Ciro como o seu “pastor”.
A menção específica de Ciro é impressionante, pois antecipa com exatidão histórica a intervenção persa na libertação do povo.
Ciro, o ungido do Senhor (Isaías 45:1-13)
O capítulo 45 inicia com a surpreendente declaração de que Ciro, rei da Pérsia, é o “ungido” do Senhor (v. 1).
O título hebraico “messias” aqui aplicado à um gentio revela a soberania divina ao usar quem quiser para cumprir seus propósitos.
Deus promete abrir portas, derrotar reis e entregar tesouros ocultos à Ciro, como parte de seu plano redentor para Israel.
Nos versículos 4 a 7, Deus afirma que Ciro foi chamado pelo nome e fortalecido, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente.
Essa declaração sublinha que o Senhor é o único Deus, Criador de todas as coisas, inclusive da luz e das trevas, da paz e da adversidade.
É importante destacar que o termo “mal” aqui refere-se a “calamidade” ou “desgraça”, e não à maldade moral.
Por fim, nos versículos 8 a 13, Isaías declara que Deus criou os céus e a terra para serem habitados e ordena que Ciro reconstruí a cidade de Jerusalém e liberte os exilados.
Deus age de forma justa e grátis, sem barganhas. O uso de Ciro aponta para a soberania absoluta do Senhor em usar instrumentos humanos, mesmo alheios à fé judaica, para executar seus desígnios.
O Deus criador e Salvador (Isaías 45:14-25)
Isaías prossegue exaltando a singularidade de Deus como Salvador. No versículo 14, é profetizado que povos estrangeiros reconhecerão que só em Deus existe salvação e se submeterão ao seu poder.
Essa profecia ecoa a missão universal de Israel como luz para as nações, apontando para o cumprimento final em Cristo.
Nos versículos 15 a 19, é enfatizado que Deus não fala em segredo ou se revela de maneira obscura.
Ele se apresenta como um Deus de justiça, que criou a terra para ser habitada e se comunica de forma clara.
Isso contrasta com os oráculos enigmáticos dos deuses pagãos e destaca a confiabilidade da revelação divina.
Por fim, Deus convida todas as nações a se voltarem para Ele e serem salvas (v. 22-25). “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra”.
Esta é uma das passagens mais missionárias do Antigo Testamento. Toda a humanidade é chamada a reconhecer a soberania e a justiça do Senhor, diante do qual todo joelho se dobrará.
A queda dos ídolos da Babilônia (Isaías 46:1-13)
Isaías 46 começa descrevendo a derrota dos deuses babilônicos Bel e Nebo (v. 1-2). Esses ídolos, em vez de salvarem, são levados como carga em animais cansados.
É uma imagem viva da impotência da idolatria diante do poder soberano de Deus. O contraste é claro: enquanto os falsos deuses são carregados, o verdadeiro Deus é quem carrega seu povo.
Nos versículos 3 e 4, Deus reafirma seu compromisso com Israel desde o nascimento até a velhice.
Ele é constante e fiel, sempre disposto a carregar, sustentar e salvar. Essa promessa está em agudo contraste com a incapacidade dos ídolos. Aqui está um dos grandes consolos da fé: Deus nunca nos abandona.
Por fim, o capítulo conclui com a reafirmação da singularidade divina (v. 8-13). Deus declara que desde o princípio anuncia o fim e que sua vontade prevalecerá.
Ele chama Ciro como seu instrumento de redenção. Aos de coração obstinado, Deus declara que sua justiça se aproxima e sua salvação não tardará.
Conclusão
Os capítulos 44, 45 e 46 de Isaías formam uma poderosa sequência profética sobre a soberania de Deus, a redenção de Israel e a futilidade da idolatria.
Através de imagens vívidas e declarações enfáticas, o texto apresenta um Deus que é ao mesmo tempo Criador, Salvador e Redentor.
Ele é fiel ao seu povo e governa todas as coisas para a realização de seu plano eterno.
O uso de Ciro como instrumento de libertação mostra que o Senhor atua de forma inesperada, usando inclusive reis gentios para cumprir suas promessas.
A história de Israel é, assim, uma demonstração da fidelidade divina e da autoridade do Deus que comanda a história.
Por fim, o convite à conversão universal permanece atual: “Olhai para mim e sede salvos”.
Em um mundo ainda dominado por ídolos modernos e corações endurecidos, a mensagem de Isaías ecoa como um chamado urgente ao arrependimento, à fé e à fidelidade ao Deus único e verdadeiro.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª edição, São Paulo:Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
MacDonald, William. Comentário bíblico popular. Antigo Testamento. 1ª edição, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.